Arrancou ontem a 19ª edição do Festival Super Bock Super Rock. O tal festival que fala em sol, praia e rock e que tenta disfarçar a poeira da areia com tufos mal amanhados de relva, não teve a melhor das sortes pois sol foi o que não se viu ontem e praia nestas condições e para quem tem vida que trabalha, também nem vê-la. Adiante.
Kalú no palco EDP e os Trêsporcento no palco Antena 3@Meco abriram as hostilidades às 20h00. Se Kalú é a face mais punk/rock dos Xutos e Pontapés e diverte-se neste seu projecto a solo para dar azas a essa vertente, os Trêsporcento estrearam-se nestas andanças de festival grande com o seu rock alternativo ou rock mais indie. Projectos ambos simpáticos mas não suficientemente apelativos para não ir espreitar o “hype” que rodeia as Anarchicks. E o que são estas Anarchicks? São um conjunto de 4 miúdas, mascaradas de pin-ups, com um certo cenário, mas que musicalmente oferecem pouco. Somos a favor destes projectos, apoiaremos sempre, mas não vamos dizer que é espectacular só por dizer. Teríamos ficado melhor em Trêsporcento se bem que as Anarchicks conquistaram muito público que lá se encontrava para as ver.

No palco EDP estava entretanto Owen Pallett a preparar-se para subir ao palco. Apareceu com o seu violino e o seu ar tímido e franzino e começou por tentar disfarçar algumas dificuldades técnicas que levaram a um pequeno atraso do seu concerto. Já TOY também começou um pouco mais tarde do que o previsto, mas já lá iremos. Pallett, que para além de ter colaborado com os Arcade Fire teve em Final Fantasy um projecto bem interessante, não estava destinado a agarrar público algum deste SBSR. Apesar de meia dúzia de pessoas efectivamente interessadas, a grande maioria presente neste palco concordava que Pallett era descabido no cartaz ao ignorar a sua prestação. Já no Antena 3@Meco tocava ao mesmo tempo Mazgani, o “nosso” iraniano, que com o seu habitual carisma conseguiu agarrar o grande número de pessoas que estava a assistir.
Depois de Mazgani, o palco Antena 3@Meco dedicou-se à batida (perdoem-me os apreciadores) sempre igual da electrónica. Passaram por lá Kinetic, Freshkitos, Expander e mais tarde Nina Kraviz e Ben Klock b2b Marcel Dettmann e a ideia que passa é que alguém fez um press play e o pum-tch-pum era sempre igual.

Tínhamos então Azealia Banks no palco principal, às 21h50. Ou não. Ela lá estava, acompanhada de DJ e 2 dançarinos (ou dançarinas, nem percebemos bem), qual artista típica dos programas de domingo à tarde da TVI. Numa batida sempre forte e que deixou uma enorme parte do publico em histeria, Azealia rappou ao som dos seus vários singles tais como “212” ou “Van Vogue” e navegou ainda por samples de “Out of Space” dos Prodigy, “Born Slippy” dos Underworld e “Harlem Shake” de Baauer. Bastante electrizante mas confessamos, bastante desinteressante. Antes de Johnny Marr substituir Azealia Banks, subiam ao palco EDP os Efterklang. Ora, depois de uma moda descabida a propósito da presença destes dinamarqueses no último Vodafone MexeFest, e de uma passagem recente pelo Lux, a escolha revelou-se mais uma vez fraca para um festival (supostamente) de Rock. É certo que os Efterklang têm apontamentos bem interessantes nomeadamente nos álbuns Parades e Magic Chairs de 2007 e 2010 respectivamente, mas faltava ali qualquer coisa que aquecesse o público, ávido de Rock N’Roll.

Eram então 23h20 quando, podemos dizer, “começou” finalmente o festival! No palco principal apareceu Johnny Marr, ex-guitarrista dos enormes Smiths. Não proporcionando o melhor concerto da história (evidentemente), Marr presenteou o público com um concerto muito bom recheado de músicas dos Smiths, como se as suas, em nome-próprio não fossem suficientes. Depois de começar com “The Right Thing Right”, Marr tocou “Stop Me If You Think You’ve Heard This One Before” e mais tarde “Bigmouth Strikes Again”, “How Soon is Now?” e acabou com “There Is a Light That Never Goes Out”, tudo da sua antiga banda com Morrissey. Excelente concerto, perfeito para dar o mote. Sim, porque ainda antes de Arctic Monkeys havia TOY. A banda londrina e não o cantor pimba como alguns miúdos fizeram crer a três ou quatro seguranças, que lá cairam na esparrela.
Os TOY ainda só têm um álbum, homónimo, que saiu em setembro do passado ano, mas os seus singles já demonstraram que são uma banda a conhecer e bem! Entraram em palco, com o tal pequeno atraso que falámos há pouco, e com o fardo de encalharem no mesmo horário dos Arctic Monkeys. E se começaram em força para uma plateia muitíssimo bem composta, passados 20 minutos já só estavam a tocar para meia centena de gatos pingados. E que pena que isso foi! Ou melhor, que péssima ideia isso foi, má organização de cartaz, porque não mereciam de todo que isto acontecesse. Os TOY, com o seu rock psicadélico e de matriz Kraut estavam a dar um enorme show, só ultrapassado pelos macacos do árctico (por razões óbvias). Mesmo muito bom o concerto dos londrinos que ainda conseguiram mostrar algumas novas músicas. Concordamos que é preciso público para tornar um concerto num bom concerto, mas do que vimos, os TOY mostraram porque são uma das bandas mais interessantes a acompanhar na cena do indie-rock-psicadélico.

Seguimos então para o concerto da banda de Alex Turner…
Falar sobre este primeiro dia é falar sobre Arctic Monkeys porque quaisquer concertos que tenhamos visto nesta quinta-feira, evaporam-se depois de ver a banda de Sheffield.
Foi o melhor concerto do ano até agora, e se calhar até ao fim do ano, caramba.
Estes miúdos vieram cá mostrar que já não são garotos. Alex Turner é um verdadeiro rock man! Todos eles são. Já editaram 5 discos, percorreram o mundo graças a eles, e ainda não fizeram sequer 30 anos. Alex até está com mais cara de miúdo, mas é cada vez mais um animal feroz de guitarra na mão. Os Monkeys já passaram por Portugal várias vezes, mas esta foi sem dúvida a mais intensa – e que os confirmou como a grande banda rock dos nossos dias. Confiantes, serenos em palco, cheios de atitude e com um Alex Turner invulgarmente bem disposto – neste concerto terá falado mais com o público do que em todos os outros concertos juntos – está um showman à antiga, com brilhantina no cabelo e passos à Elvis. Em cerca de 1h30 de concerto, os AM abriram logo com música nova – “Do I Wanna Know” e depois percorreram 4 discos, entre os clássicos mais óbvios e outras grandes malhas menos evidentes. Do novo álbum, tocaram ainda “R U Mine” e “Mad Sounds”, deixando-nos sedentos de ouvir mais canções de AM, em disco a partir de Setembro, e ao vivo por favor, num coliseu ou noutra praça, e já com o todo o novo disco para tocar.