
Realizou-se na noite de quinta feira, 19, a primeira edição do NOS em Palco. Primeira, porque se espera que uma iniciativa destas se venha a repetir. E pelo sucesso – cerca de 35 mil pessoas – é de esperar que seja para continuar. 13 espaços, entre Santos e o Cais do Sodré, receberam 30 concertos de bandas nacionais. Umas já consagradas, com alguns discos editados, outras que ainda estão para editar o primeiro registo, outras de gente que já deu cartas noutras bandas e se aventura agora em novas paragens. Ouviu-se música de todos os estilos, em concertos gratuitos, numa iniciativa que tem por trás a NOS Discos (ex-Optimus Discos), que continua a apostar nos grupos portugueses.
O Altamont esteve em várias das salas que receberam concertos deste festival e aqui fica o relato do que vimos e ouvimos.
Best Youth – Catarina Salinas e Ed Rocha Gonçalves vieram à capital com uma bagagem cheia de música nova que fizeram questão de partilhar connosco, embalando o público com músicas e melodias que sabem a Verão. O lusco-fusco de fim de tarde, mais as batidas electrónicas e a voz suave de Catarina, deram ao Largo de S.Paulo, que estava bem composto para os receber, movimentos corporais sedutores, sem grandes exageros, aqueles movimentos que fazemos com o corpo quando a música nos relaxa. Temas como “Hang Out”, uma das primeiras músicas do EP Winterlies, ou a batida persistente de “Still Your Girl”, alternado entre sons mais antigos e alguns mais recentes, pediam que a interacção entre nós e eles fosse de olhos fechados para que ouvíssemos melhor. Best Youth seguem um registo musical muito semelhante em cada música que tocam, a diversidade entre elas não é muita, mas é também o que lhes dá graça, uma onda fresca que é recebida com um sorriso na cara quase como aquela cerveja que nos chega à mão depois de fim de tarde na praia. “Obrigada Lisboa! Já tínhamos saudades disto!” Os nortenhos despediram-se assim, simples, sem demoras, tal como entraram. Foi uma das aberturas do festival NOS em Palco e um serão bem passado.
Capicua – Foi ela a primeira a actuar naquele que seria o palco mais direccionado ao hip-hop, a Central Station. Capicua começou a noite com alguns dos temas de Sereia Louca, disco deste ano, juntamente com alguns mais antigos e presentes no público, do primeiro e homónimo o disco. Não sendo o som do espaço o melhor, Ana Matos provou, com o seu trabalho e em conjunto com a companheira M7, que o hip-hop pode mover gente de todo o lado, numa festa bonita e cheia de mãos no ar, onde até canções acústicas foram cantadas, com Mistah Isaac.

Chibazi – Quem não tem saudades de Diego Armés que ponha a mão no ar! Pois… bem nos parecia, todos sentimos a sua falta. Mas hey! Há boas notícias para quem guarda num semi-altar os discos de Feromona. Armés volta de novo (apesar da banda que o enquandra ser totalmente diferente), desta vez com Chibazi. O seu primeiro concerto foi, advinharam, no NOS em Palco, no auditório da ETIC, e por momentos voltamos ao mundo do rock despreocupado e bon vivant que hoje parece em extinção. Num registo mais soft, menos pesado, electrico, onde promenores como algumas camadas tímidas de teclado ganham mais destaque sente-se primavera no ar quando os Chibazi se fazem ouvir. Uma única questão a levantar: a distribuição dos concertos deixou muito a desejar, com uma quantidade avassaladora de grandes nomes a tocar em simultaneo, o que dificultou não só a gestão de público como a gestão de escolhas. Por isso mesmo, um concerto tão agradável como foi o dos Chibazi contou apenas com uma mão cheia de pessoas, em vez de uma sala cheia, como mereciam.
5-30 – O super grupo composto por Fred, Pac-Man e Regula veio continuar a aposta do palco Central Station no melhor do Hip-Hop nacional. Ainda embrulhados num tsunami de visibilidade e com (relativamente) poucos concertos dados ao vivo, o trio enfrentava um desafio – transportar a sua energia e força bruta para um venue modesto, apertado e com pouco espaço. Se deu para perceber, logo no soundcheck, que os baixos colossais das batidas de Fred iam fazer levantar mortos (impressionante a forma como as janelas estremeceram durante o soundcheck inteiro), quando chegou hora de atacar o público, percebemos bem que este iria ser daqueles concertos que nos deixa de costas moidas. E assim foi. Percorrendo o seu primeiro e último álbum quase todo, a combinação quase demente de letras viscosas e beats cirurgicos fez o delírio de quem ali se juntou. Pac-Man matou-nos as saudades “Da Weaselianas” com a sua clássica rima de voz tosca e profunda, Regula, no seu estilo bem pintas, debitou palavras como quem devora dicionários ao pequeno-almoço, Fred foi… Fred (impecável!) e Sam The Kid voltou a provar a todos nós porque é que é o rei do Hip-Hop em Portugal. Continua com a mesma genica e suavidade de sempre, parece que o tempo (e a fama) não lhe tocam. Destaque para “Dúvida”, que pôs toda a Central Station a cantar, “Arame” que calou as cantorias e fez puxar pelos pulos e os braços no ar, “Pode ser” e “Chegou a Hora” foram outras passagens merecedoras de relevo – soam ainda melhor ao vivo.

Ermo – Já não é de esperar da dupla bracarense menos que uma experiência sensorial total. No espaço apertadinho e completamente cheio do Lounge, António Costa e Bernardo Barbosa deram, como sempre, tudo o que tinham a dar ao público. Gritos e cantos viscerais, uma electrónica simples mas certa. O som que caracteriza os Ermo é diferente de tudo. É minimalista na sua essência, cheio e sumarento na voz presente e gritante de Costa. É daquelas coisas que sempre que há oportunidade, não se pode perder. E nós não perdemos.
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Textos de Diogo Lopes, Filipa Dornellas e Francisco Marujo; Fotos de Diogo Lopes e Francisco Fidalgo