Fiquem com um resumo do que achei ser o melhor (e o pior) do Primavera Sound, sem qualquer ordenação específica:
1 . Os sacos/toalhas de piquenique.
Porquê? Porque são úteis, coisa que os brindes de outros festivais raramente são. No Primavera, brindes ou eram sacos que se transformavam em toalhas (como parece ser já costume), algodão doce ou pipocas. Tudo coisas boas, portanto. Mesmo quem não é dos brindes acabou por ceder.






Fotos: Hugo Lima
2. A paparoca.
Das sandes-quase-kebab d’A Tachadinha às sandes de chouriço de Ponte de Lima (cuja amostra foi gentilmente oferecida por uma senhora que me agraciou com dois agradáveis dedos de conversa), da pizza (quem nunca passou pela Pizzarte, em Aveiro, é favor fazê-lo) à…tripa.
Perdoem-me o protagonismo que esta última iguaria irá ganhar face às outras mas o mérito é enorme. Não me vou perder em descrições, só comendo se percebe. Se algum dia forem a Aveiro (ou a um festival com bom gosto), não hesitem em perguntar pelo Zé da Tripa. É daí que vem a original (e a do Primavera assemelhava-se bastante!). Façam um favor a vocês próprios e peçam a tripa mista de chocolate e ovos moles – está feita a declaração de amor.
Foto: Hugo Lima
3. Música? Sim, ainda há festivais feitos de música.
Do (morto) primeiro dia, é impossível não se falar de Kendrick Lamar. Foi a estrela da noite e uma das maiores do festival. Um tipo que apareceu há relativamente pouco tempo e que num ápice arrasou o hip-hop todo que existe, fazendo seu o trono. Um tipo que não tem manias de grandeza nem pretende ser mais do que é. Um tipo que faz fãs de qualquer lado – quer gostem de hip-hop ou não. Um tipo que fez o concerto provavelmente mais espectacular do festival. Com uma banda atrás – coisa rara para o estilo de música que faz – Lamar ganhou a noite que atraiu ao festival todo o tipo de pessoa, do típico espectador do Sudoeste ao mais pacato melómano.



Fotos: Hugo Lima
Do segundo dia, várias coisas se destacam e por razões bastante diferentes. A estreia dos australianos Pond em Portugal. Psicadelismo até ao tutano, numa rockalhada imparável – e um moche histórico. Ainda que tivessem dado um concerto pequeno e com três ou quatro canções novas, Nick Allbrook e amigos souberam (e bem) como domar (tentativa de trocadilho com Tame Impala?) as gentes mais espalhafatosas do festival (parte da redacção Altamont incluída).
No fim de Pond, ouvia-se ao longe os Slowdive. Admito, nunca lhes dei muita atenção. Admito, foi um dos meus maiores arrependimentos (senão o único) no festival, por não os ter visto. Tudo isto porque o som que vinha lá de baixo era das coisas mais bonitas e poderosas que alguma vez ouvi em concerto. E que bem soava.
Godspeed You! Black Emperor também merece menção pelo ambiente que ali, naquela noite, se criou – um negrume castanho e obscuro naquele anfiteatro rodeado por árvores. Far out!
Ao final do dia, optei por Darkside em vez de Mogwai. Estava mais numa de descobrir um projecto que já tinha ouvido dizer ser diferente e fantástico do que numa de pós-rock. E foi provavelmente o meu menor arrependimento. Em Darkside, eu e muitos perderam a noção do tempo (e não só). As projecções no espelho redondo, as linhas de guitarra subtis e as batidas fortes e sujas de Nicolas Jaar e Dave Harrington suscitaram na plateia sensações introspectivas que nenhum outro concerto no festival igualou. A repetir.
Ao terceiro dia, conforme as escrituras, voltou o sol e voltaram os National. National, National, National. Já são clientes habituais das terras lusitanas mas nem por isso deixamos de os querer de volta. Ver os National é sempre uma experiência diferente, das explosões vocais e físicas de Matt Berninger ao piano nostálgico de Aaron Dessner (ou será do irmão gémeo?) em “Fake Empire”, da bateria cíclica e hipnotizante de Bryan Devendorf às projecções que surgem como cenário do espectáculo, nunca ninguém fica indiferente a uma actuação do quinteto de Cincinnati. Ah, e houve também um dueto com St. Vincent, na canção “Sorrow”.
Fotos: Hugo Lima
No último dia, destaque também para Ty Segall. Rock do bom, um ambiente super relaxado e intimista, uma banda de gajos porreiros e engraçados. E um moche épico, mais uma vez.
Ah, os Neutral Milk Hotel também fizeram uma coisa meio bonita meio estranha lá pelo meio mas não me vou alongar sobre isso.
4. Os impermeáveis.
No segundo dia, a organização decidiu distribuir uns quantos (nada maus) impermeáveis para a chuva que se previa cair. A chuva não caiu mas que bem nos caiu mais esta boa oferta – que decerto nenhum outro festival ofereceria (mais graxa).


Fotos: Hugo Lima
5. As bancas de comércio independente.
Desde a habitual t-shirt dos Ramones ao vinil mais difícil de encontrar, da bijuteria aos folhetos informativos sobre drogas (contavam-se mais de 10 tipos e a sinceridade do texto era um alívio). As bancas colocadas entre a entrada e a zona dos palcos estavam cheias de boa vontade e originalidade. Quer se estivesse à procura de informações sobre práticas comuns em festivais (leia-se: drogas) ou do mais diferente adereço, qualquer um teria alguma coisa a trazer dali, sem compromissos nem marketing abusivo.






Fotos: Hugo Lima
6. A proibição da entrada de comida no recinto (ou: foi você que pediu um bocadinho de estupidez e casmurrice?)
Louvável! Ou não. Ridículo e desumano. Não tem razão de ser e a maioria dos preços da restauração são exagerados, obrigando as pessoas a gastar rios de dinheiro que não contavam (ou não tinham para) gastar ou a passar fome. Especialmente num tempo de crise, é uma posição irresponsável e contraditória que o festival assume.
7 – Vá, e o ambiente no geral.
Três anfiteatros naturais é obra. É obra e melhora a experiência festivaleira a todos os níveis, possibilitando a boa visibilidade a todo o tipo de mobilidade (e cansaço). Relva e vegetação por todo o lado também faz a diferença e contribui para um ambiente festivaleiro sem igual. No fundo, é ir.









Fotos: Hugo Lima