
O terceiro e último dia do NOS Alive 2015 foi um dia de êxtase. De Sleaford Mods aos Mogwai, de Dead Combo a Chromeo, de The Jesus & Mary Chain a Disclosure, o fecho do festival não desiludiu ninguém, contrariamente aos dias anteriores.
Às 18h30, a irreverencia dos Sleaford Mods começou no palco Heineken. Um mais ou menos punk, completamente despido de guitarras, um grito de protesto por cima de um baixo e batidas cruas e sintetizadas. Em palco os Sleaford Mods não admiram pelo seu número nem pelo peso de qualquer cenário. Antes pelo contrário, em palco apresentam-se tal qual as suas músicas simples mas densas: no computador, carregando play e bebendo cerveja, Andrew Fearn; no microfone, com uma postura desconcertante e inconformista, Jason Williamson. Simpático e caloroso, o duo passou pelas canções de Divide and Exit, aclamado disco de 2014, algumas outras mais antigas e as do novo disco, lançado um dia antes do concerto. Ouvimos “Tied Up In Nottz”, “No One’s Bothered” e muitas outras, incluindo uma dedicada ao “porco gordo que vive no número 11 [da Downing Street]”.
Sem termos de sair do lugar, vinham a seguir os Dead Combo. Num concerto forte em canções conhecidas – os Dead Combo têm já um currículo que lhes permite fazer um concerto brilhante do início ao fim – e participações especiais (Sérgio Nascimento e Isaac Achega na percussão), o duo lisboeta percorreu a sua carreira num best of impressionante e muito celebrado pelo público, terminando com uma efusiva rendição de “Zorba the Greek”, dedicada ao povo grego, que via a sua bandeira ondulando no ecrã.
Pós-rock épico, triunfal e triunfante foi o que ouvimos de Mogwai. Distorção impiedosa, guitarras decididas, headbanging desmedido. O fuzz tempestivo escondia as notas das guitarras, tímidas, ténues, melódicas e melancólicas. Poesia musical, maravilha triunfal, o universo tornado ínfimo ao lado das canções de Mogwai. Os planetas alinhados, porra. Que concerto gigante, que dedicação, que entrega. Um concerto infinito, onde tudo começa e nada acaba. Flashes luminosos como explosões de estrelas, perdidas mas unidas num só propósito. A humanidade da melancolia das guitarras quebrou-corações e percepções. Não precisávamos de mais nada.
Mas The Jesus & Mary Chain estavam de volta, bolas. Ouvimos Psychocandy na íntegra, caramba. Progressões de acordes maiores que a vida, percussão triunfante, guitarras barulhentas sem dó nem piedade dos tímpanos do público, coros melosos e nostálgicos, e três canções “de bónus”: “Head On”, “Some Candy Talking” e “Reverence”. Um dos concertos mais cheios e aplaudidos da noite, já na sequência dos dois anteriores do palco Heineken.
Não aguentávamos mais, tínhamos de recarregar baterias e deixar pra trás o palco Heineken. Chet Faker aparecia em Portugal pela quarta vez este mês, definitivamente já rendido ao público português – e vice-versa. Do curto e possível concerto, além da recepção mui calorosa e delirante do público, destaca-se a versão ao piano de “Talk Is Cheap”, que fechou o espectáculo.
Pelo palco NOS ficávamos, para ouvir a discoteca gigante em que os Disclosure tornaram o recinto circundante do palco. Num dos concertos mais merecedores daquele palco, o duo inglês impressionou com “When A Fire Starts To Burn” e “Latch”, entre outros portentos electrónicos, com um NOS Alive completamente siderado e dezenas de milhares de pessoas aos saltos, fazendo um lençol humano ondulante. A festa parecia ter acabado, mas ainda faltavam os Chromeo. Num concerto rico em ritmos gingões e contagiantes, o duo canadiano-americano levou até ao limite as baterias de quem ainda tinha uma pontinha de energia pra gastar numa dança interminável e celebratória.
Ainda que tenha sido uma edição claramente mais fraca que as anteriores, com um festival cada vez mais direccionado às famílias e que cada vez arrisca menos no cartaz, conseguiu-se aproveitar uma mão cheia de bons concertos, onde estiveram fortes os portugueses: Batida, Dead Combo e Capicua – ainda que em palcos menores – foram dos concertos mais badalados do festival inteiro.
Texto: Francisco Marujo
Fotos: Sofia Mascate