Começa mais uma edição do NOS Alive. A começar o festival, e desde logo a partir tudo, os Galgo inauguraram o palco Heineken. Ao mesmo tempo, também os Cityspark começavam a espalhar magia, estes no palco NOS Clubbing. Feitas as introduções, chegou a vez das primeiras estrelas da noite: The Wombats.
O natal veio mais cedo para as meninas da fila da frente que deliraram com o indie-rock do início do século. “Christmas came early” foi mesmo um dos primeiros versos a ser entoados num concerto que passou pelos clássicos da banda, incluindo “Let’s Dance To Joy Division”, do disco de 2007 (A Guide To Love Loss & Desperation), cantada mesmo no final.
Logo a seguir começaram os Young Fathers no palco Heineken. Mestres na arte do dartudismo, a banda escocesa misturou hip-hop, electrónica, funk e uma percussão e beats pesados como se não fosse nada. Uma prestação incrível e intensa, que inaugurou definitivamente o festival. Um transe negro e psicótico, que de vez em quando mudava para um falsete melancólico acompanhado por um órgão – mas os Young Fathers não deram parte fraca. Assim que o público aceitou a melodia triste e chorona, a banda começou a rappar por cima de um beat pulsante e impactante, dando cabo de ligamentos e cabeças a cada drop súbito de beat.
Depois de um concerto que nos deixou sem fôlego, chegava a vez dos Capitão Fausto. Escolhidos para substituir Jessie Ware, que cancelou o seu concerto, a banda não desiludiu e entregou-se como sempre ao público, com o seu misto de kraut e rock psicadélico bem português. Wallenstein, Coimbra, Palha, Ferreira e Seabra reuniram esforços pra mais um excelente show de bola, com um best of das canções de Gazela e Pesar O Sol.
À hora do jantar, lusco-fusco, sobe ao palco NOS um velho amigo do público e palcos portugueses. E aqui a expressão de vetustez é adequada. 2015 não é 1998, Ben Harper mudou e nós mudámos também. Sempre gostámos de o receber cá, ele sempre gostou de cá vir, mas a verdade é que nos últimos 10 anos, pouca chama houve para reacender a mútua paixão entre Ben e a tuga. Ainda assim, neste regresso a palcos nacionais, ele tentou puxar pela velha paixão, abriu com “Glory and Consequence” e seguiu depois com vários temas de discos antigos como Fight For Your Mind, The Will To Live, um pouco de Burn to Shine. Apelou à nostalgia e terá conseguido despertar memórias de adolescência nalguns velhos fãs, mas não parece que a música de Ben Harper tenha chegado às novas gerações. Ainda assim, claro, é sempre bom rever um velho amigo. No entanto, não deu para ficar até ao fim, na outra ponta do recinto estava para começar o show de Metronomy.
E aqui sim, falamos de uma banda que sabe manter-se fresca. A trupe liderada por Joe Mount também começa a ser habitué nos palcos nacionais – este foi o terceiro concerto em 4 anos – e as actuações são sempre intensas. Por saber isso, o público vem em massa, com as letras bem ensaiadas, corpos prontos para dançar, numa calorosa comitiva de boas vindas. A banda sentiu esse amor que vinha da plateia e respondeu com um excelente concerto. Em pouco mais de uma hora os Metronomy centraram atenções nos discos mais recentes, English Riviera e Love Letters, que já nos ofereceram verdadeiros hinos como “The Look”, “The Bay”, “Corinne” e “Love Letters”. Como tinham o público na mão, desde a primeira canção, não precisaram de manter os decibéis sempre no máximo, por isso alternaram as canções mais efusivas com outras mais dengosas e acústicas como “The Upsetter”, “Reservoir” ou “I’m Aquarius”. Mais um grande concerto dos Metronomy em solo nacional, eles despediram-se com desejos de voltar em breve. Aguardemos.
“Hunger of the Pine” foi a canção escolhida para começar o concerto dos Alt-J. Casa cheia para o grupo inglês que regressa ao festival depois de um concerto também lotado em 2013. Desta vez o grupo trocou de palco, tendo a honra de tocar no palco NOS, antes dos Muse. Escondidos na penumbra azul das luzes, é com “Fitzpleasure” que prosseguem o concerto, repetindo-se o delírio do público, canção após canção. O crescimento dos Alt-J é notável, não sendo totalmente falaciosa a previsão, aquando o lançamento de An Awesome Wave, em 2012, de que seriam os novos Radiohead. Isto em tamanho; já em música e relevância, a coisa é diferente.
Ainda que contem com um magote de gente atrás deles, um concerto de Alt-J não é propriamente entusiasmante. É-o durante as primeiras canções, onde não faltam as orelhudas “Something Good”, “Left Hand Free” ou “Breezeblocks” – entre outras, divididas entre os dois discos da banda -, mas o desenvolvimento e a conclusão são tal qual a introdução. Cavalitas, coros e saltos não faltaram, claro, mas pelo meio do concerto a actuação já se revelava bastante insossa.
Dos Muse pouco há para dizer. Espectáculo competente mas insuficiente, onde se ouviram (na maioria) canções mais recentes – sendo as excepções “Uprising”, “Starlight”, “Knights of Cydonia”, “Supermassive Black Hole”, “Plug In Baby”, “Hysteria” e “Time is Running Out” – por entre interlúdios roubados a canções de Led Zeppelin e AC/DC, estando também presente a onda dos Queen (nos coros e solos oleosos). Os Muse já não são o que eram mas ainda têm energia pra hipnotizar com distorção musculada e solos triunfantes os milhares que se ajuntam para os ver, sem falhas nem momentos mortos. O concerto terminou com a já mencionada “Knights of Cydonia”, que inundou o recinto de confettis que o vento levava na direcção do palco Heineken. Estava na hora dos Django Django.
Bem, o que dizer. Mais uma vez, um concerto pleno em energia e dança inesgotáveis, desta vez com menos canções do disco de estreia. Notou-se uma maior adesão do público nas canções mais antigas, como “Hail Bop” – que iniciou o concerto – e “Default”, ainda que ao vivo as canções de Born Under Saturn resultem bem em conjunto com as antigas, sempre alternadas e sem pausas. Com coros maravilhosos à Beach Boys, teclados e percussão à Kraftwerk e garra à Franz Ferdinand – aliados a delays incessantes e guitarras estridentes -, o espectáculo dos Django Django ganhou a noite. Um concerto que nos deixou completamente absortos, completamente submergidos nas paisagens quentes, tropicais e futuristas que imaginávamos na cabeça. Como de costume, o concerto terminou com “WOR”, um grito de guerra explosivo que fez qualquer um querer pertencer a uma banda como os Django Django.
Para alguns, a noite terminou aí – quem precisava de mais alguma coisa, na verdade? Para outros, prosseguiu com a electrónica melancólica de Flume, produtor australiano cada vez mais reconhecido no panorama musical do género. As canções do disco homónimo de 2012 foram as que dominaram um concerto cheio e bem recebido – todos foram felizes pra casa.
Texto: Francisco Marujo e Duarte Pinto Coelho
Fotos: Sofia Mascate
Francisco, aqui tem: http://www.priberam.pt/dlpo/orelhudo
o que é uma canção orelhuda?… não é a primeira vez que usam essa expressão e deixa-me sempre na dúvida