O melhor de dez anos de carreira é poder celebrá-los assim. Depois de um concerto no Hard Club, os Linda Martini apresentaram o novo disco Turbo Lento em Lisboa, na Sala Tejo do Meo Arena. Sala essa que, segundo o baterista Hélio Morais, foi a maior e a mais cheia nestes dez anos de concertos.
“Ninguém Tropeça Nos Dias”, a primeira música do novo álbum, iniciou um dos alinhamentos mais bem pensados e bem conseguidos. Continuaram com a força de “Juárez”, apontado como um dos melhores temas novos e que foi a desculpa que o público estava a espera para criar o caos. Na sequência, veio o inevitável “Panteão”, e logo depois voltaram atrás com “Nós Os Outros” e “Juventude Sónica”, a música em que somos putos e gritamos todos que não temos aulas amanhã. Mas a música seguinte foi uma das maiores surpresas do concerto. Ouvir “Estuque”, do disco Olhos de Mongol, de 2006, trouxe a nostalgia desses anos, à medida que sentíamos alguns dos melhores riffs da noite. Mais tarde recuperaram ainda a agitação de “Amor É Não Haver Polícia”, mais uma música desse álbum.
A baixista Cláudia sorria e fechava os olhos como se fosse uma espectadora a entrar nas suas próprias música e nós entravávamos com ela; tanto nos clássicos, como nas músicas que se estreavam em palco. A verdade é que os Linda Martini também têm a sorte de ter uma comunidade de fãs dedicados (afinal de contas houve quem ali estivesse desde a uma da tarde), que já tinham estudado o novo álbum. Por isso os três temas que vieram a seguir já iam conseguindo os coros do público. A intensa “Pirâmica” foi a melhor escolha para a transição entre a calma de “Estuque” e o frenesim de “Sapatos Bravos”. Mas foi a “Febril (Tanto Mar)” que nos fez largar a raiva e a ansiedade dos dias com a violência do instrumental e dos refrões. Naquela sala gritava-se «tenho o sangue a ferver» com a mesma força que se cantou «cerra os dentes vem jogar» em “Belarmino”, logo a seguir.
“Ratos” fez o seu papel de single conhecido numa audiência febril, que assim continuou até encontrar a ebulição em “Cem Metros Sereia”; uma sala inteira a gritar «Foder é perto de te amar» como um verdadeiro hino, até o grupo já não ter mais acordes para sustentar o refrão. Ainda houve tempo para a serenidade e a melancolia de “Volta” que serviu de mote a uma despedida que se avizinhava curta. O vocalista André Henriques explicou que são contra os encores, mas que ali se torna muito difícil. «Somos fáceis», diz Cláudia. E assim nos presentearam com a sua melhor música instrumental “Este Mar”, concluindo brilhantemente o alinhamento com a poderosa “Dá-me A Tua Melhor Faca”.
Que o rock continue a crescer pela mão e voz dos Linda Martini e que eles cresçam connosco durante mais dez anos.
Fotos: Duarte Pinto Coelho