É verdade que a memória já me falha, não sei se pela idade se pelo excesso de concertos, mas não me lembro de alguma vez ter visto os Dead Combo e o Legendary Tiger Man tocar juntos. Tanto no mesmo palco como no mesmo evento, um a seguir ao outro.
Há uma certa sensação de equilíbrio quando se vê um concerto de Tiger Man e, apenas 20 minutos depois, um concerto de Dead Combo. São duas “bandas” tão diferentes – não na génese ou nas influências, mas sim naquilo que são hoje – que se complementam de uma forma algo inesperada e que, simplesmente, nos faz sentir bem. E se a música não nos faz sentir bem então é porque há qualquer coisa de muito errado.
Não seria, pois, de estranhar que ter as duas “bandas” a tocar em cima do mesmo palco corresse mais do que bem.
E assim foi. Quinta-feira à noite, por ocasião da apresentação de novos nomes para o palco Heineken do Optimus Alive no Lux, primeiro subiu ao palco Legendary Tiger Man, que arrancou logo a matar com quatro dos temas mais identificativos daquilo que é o one man band e das influências blues e rock n’ roll: “Life Ain’t Enough For You”, “Walkin’ Downtown”, “Light Me Up Twice” e “Naked Blues”. Depois entrou numa onda mais intimista – aquele palco mínimo e encafuado do Lux não pede outra coisa a não ser concertos intimistas – e foi aí que chamou os Dead Combo para tocaram juntos “Let Me Give It To You”.
No fim, regressou às canções mais mexidas e viscerais para terminar com “She Said”. Foram 40 minutos de concerto, curto e simples, com muito menos daquele espalhafato saudável a que já estamos habituados, mas igualmente dinâmico. Confesso que me pareceu mais adulto, mas acima de tudo muito descontraído, como se estivesse a tocar para amigos na sala.
Uns 20 minutos depois e mais uma enchente no bar do Lux para repor os líquidos, as luzes voltam a apagar-se e é a vez dos Dead Combo. No mesmo palco encafuado têm, agora, de caber duas pessoas e muitas rosas vermelho vivo – mas também já vimos mais gente em cima do mesmo palco.
O concerto começou brando, mas depressa aqueceu com “A Menina Dança”, que é já quase um hino da banda. Na plateia permanecia um burburinho irritante – ainda não percebi de que falam tanto as pessoas num concerto, principalmente num deste género – e havia tantos casalinhos apaixonados a trocar carinhos que mais parecia dia dos namorados.
Depois, passaram por lá uns “Putos a Roubar Maçãs”, o “Mr Eastwood”, o “Cachupa Man” e os “Lusitânia Playboys”, e a coisa aqueceu ainda mais, nunca espalhafatosa, mas sempre efusiva. E entretanto, os casalinhos desabraçaram-se e começaram a dançar.
Já quase no fim chamaram o Legendary Tiger Man para tocar em conjunto “Blues da Tanga”. E aí, apesar de blues, voltámos à sala de estar, aos momentos intimistas, descontraídos e, acima de tudo, genuínos e espontâneos. Os três riram e abraçaram-se e transpareceram uma cumplicidade e amizade que acaba nos fazer gostar ainda mais das canções.
“Lisboa Mulata” encerra o concerto e parte da noite. Muita gente saiu – eu incluindo – mas o Tiger Man Paulo Furtado, Tó Trips e Pedro Gonçalves, por lá ficaram, a passar música. De certeza que teria sido bom, mas ao fim de 12 horas de trabalho, estava na altura de voltar para casa.