B Fachada agarra no microfone. Com uma banda de luxo atrás – Manuel Dordio (Márcia), João Gil (Diabo na Cruz, YCWCB), David Santos (TV Rural) e João Pinheiro (Diabo na Cruz), acendeu o rastilho de Dinamite como mais ninguém poderia. Poucas vezes vimos Fachada a dar tanto de si numa canção como em “Deixa Lá”, a faixa de abertura do disco de estreia de Dina, de 1982. Logo de seguida entrariam em palco Samuel Úria e Márcia, para um dueto invejável de “Tu Sem Mim”. Quase ouvíamos Márcia dizer “tu, Sami”, tamanhos eram os agudos que o seu colega de palco atingia.
Márcia abandonaria o palco, dando o lugar a Mitó Mendes (A Naifa), que cantaria uma impressionante “Desamparem-me A Loja” com Úria. Úria esse que sairia também do palco, deixando a heróica banda a solo com Mitó, que cantaria a intimista balada “Em Segredo”. Sentimo-nos numa boate em plenos anos 80, a dançar um slow com o nosso par. As imagens mágicas da nossa imaginação passavam para a alegria contagiante de Ana Bacalhau, que chegava para “Gosto do Teu Gosto”.
Samuel Úria mais uma vez em palco, desta vez com as meninas todas – as que já tinham aparecido – a seu lado. “Isso É Que Era Bom”, cantava cada um dos lados ao outro, num diálogo divertido e gingão. Em palco, para “Nem Mais”, ficaria só Márcia – e a fantástica banda, claro está. Faltava “Dinamite” para completar o disco integral – mas o conjunto de artistas guardá-la-ia para rebentar no final.
Na hora e meia que se seguiu, nem conseguimos bem descrever o que aconteceu. Por entre videoclipes e gravações de actuações de Dina ao vivo – incluindo no próprio São Luiz, por ocasião do Festival da Canção de 1980. Ouvimos “Há Sempre Música Entre Nós”, interpretada por Ana Bacalhau, “Amor D’Água Fresca” por B Fachada e Samuel Úria, numa braguesa apaixonada e acompanhada de delays, ouvimos a própria Dina acompanhar algumas das canções, ouvimos o caos total com Tochapestana a fazer um frenesim de levantar voo em “Pássaro Doido”. O momento mais arrepiante foi aquele em que D’Alva pisaram o palco para interpretar duas canções. Não sabemos como Alex D’Alva Teixeira consegue atingir tantas notas nem como consegue fazê-las soar tão bem, mas sabemos que levou a taça do melhor intérprete da noite.
Regressavam Ana Bacalhau e Samuel Úria para mais um dueto de amor em “Pérola, Rosa, Verde, Limão, Marfim”. Tudo de pé, sempre as palmas, D’Alva Teixeira a puxar pelo público como ninguém, a festa instalada. Ainda houve tempo para o soul de “Aqui Estou”, com Da Chick à cabeça, “Que Vamos Nós Fazer”, pelos Best Youth, B Fachada que valorizava a ocasião pelo facto de permitir a passagem de canções de mão em mão, “Acordei o Vento” com Dina, Ana Bacalhau e Mitó Mendes – outro dos melhores momentos da noite – e muitos outros momentos inesquecíveis. No final, “Esta Manhã em Lisboa” e a apoteótica “Dinamite”, com o palco cheio e plateia toda levantada.
Uma celebração feita de sorrisos e arrepios, onde nada faltou. Dina pode ter posto termo à sua carreira musical mas o seu legado continua – e poderá ainda ser revisto uma última vez no Rivoli (Porto), hoje, pelas 21h30. A não perder.
Fotografia: Duarte Pinto Coelho