Tomás Wallenstein, um dos cinco capitães que vieram marcar presença, na passada quinta feira, ao Centro Cultural de Belém, nomeou rapidamente dois grupos distintos no público; uns, compostos, sentados educadamente, e a talvez a permitirem-se (e quem os pode censurar?) a bater o pé; e outros, mais entusiasmados, que se reuniam levantados diante do palco, recebendo calorosamente e energicamente este novo rock português. Ao longo do decorrer da noite, o segundo grupo veio a agregar cada vez mais adeptos, que não resistiram e que trocaram a cadeira pela hipótese de ver e ouvir estes Faustos de perto.
“Litoral”, o enérgico single do seu mais recente álbum, Pesar O Sol, deu o sinal de arranque para o que seriam duas horas de voo sonoro e visual sem sinal de turbulência. Seguiu-se o vigoroso “Nunca Faço Nem Metade”, que viu multiplicarem-se as vozes que cantarolavam a letra já bem ensaiada em casa – “nunca faço nem metade / do que me diz a razão…”. No entanto, foi o regresso à já bem antiga “Supernova”, do primeiro álbum da banda, Gazela – que data de 2011 (!) – que lançou o público num coro caloroso que, com certeza, assegurou a banda de que estavam em boas mãos.
A noite pertenceu, de facto, a Pesar O Sol – temas como a explosiva “Célebre Batalha de Formariz” e “Maneiras Más” (esta última completa com um poderoso improviso que se arrastou durante vários minutos da melhor forma possível) foram recebidas de braços e bocas abertas. “Flores do Mal”, embalou a audiência no seu sedutor e serpenteante ritmo dançante a pedir o crowdsurfing impossível. Houve sempre o ocasional retorno ao sabor já distante mas sempre apetecido de Gazela – foi o caso do regresso da vibrante “Santa Ana”, completa com um solo de bateria manuseado pela habilidade rítmica controlada, mas simultaneamente animalesca e desenfreada, de Salvador Seabra. “Febre” lançou o público em histeria e júbilo sem precedentes. E foi “Verdade”, canção “antiga… mas actual”, que fez soar a triste despedida, antes do regresso que já era certo para fechar com “Lameira”, música que veio directamente de uma outra galáxia que não a nossa.
Seguros de si, sem quererem parecer mais do que podem vir a ser, os Faustos não se desfizeram dos habituais elogios e agradecimentos ao público diante de si, fazendo florescer o ambiente de boa disposição que só poderia reinar junto da banda sonora que acompanhou a noite.
E foi assim que se passaram duas horas de bom rock português enclausuradas em quatro paredes que, se pudessem, também dançavam ao som da viagem sonora e visual que no seu interior se deu. Tanto as místicas projecções que se viram serpentear ao longo de todo o espectáculo atrás da banda, como o público que vibrou com cada cantiga deram um contributo generoso para uma noite bem passada – mas, principalmente, a capacidade, agora evidente mais do que nunca, dos Capitão Fausto de fazerem o que sabem melhor fazer, independentemente do meio que os rodeia – rock bom e sem complicações. Até uma próxima viagem – e que não haja cadeiras, desta vez (não que tenham sido necessárias).
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(Fotos: Francisco Pereira)