Os portugueses You Can’t Win, Charlie Brown subiram ontem ao palco do Centro Cultural de Belém naquele que foi o primeiro concerto com os 6 membros juntos desde há bastante tempo. O motivo era óbvio e especial, estavam ali para apresentar pela primeira vez o seu novo álbum Diffraction/Refraction que chega amanhã às lojas.
Este é o seu segundo álbum da carreira depois da estreia com Chromatic, em 2011. E se este primeiro registo foi altamente elogiado pela sua incrível qualidade, Diffraction/Refraction não lhe fica nada atrás. Aliás, como os próprios crêem, dá mesmo um certo salto qualitativo. O que não é de admirar, os You Can’t Win, Charlie Brown cresceram como todos nós, têm mais 3 anos em cima e a sua genialidade criativa e interpretativa está mais madura.
O novo registo tem a participação de todos. Os 6 participaram, os 6 criaram. E sendo multi-instrumentalistas como são, não deve ter sido fácil. A música dos YCWCB é complexa, trabalhada, promenorizada. Tem camadas e camadas de pequenos detalhes que juntos, meus senhores, constroem uma harmonia difícil de igualar. Não é de todo exagero ter utilizado há pouco a palavra genialidade.
E é de facto um privilégio. Somos portugueses, temos o país no estado em que temos e tirando o Cristiano Ronaldo, temos pouco com que nos orgulhar. Pelo menos assim pensamos. Porque muitas vezes nem sequer nos damos ao trabalho de pesquisar, ler, ouvir. Fechássemos nós os olhos ao facto de sabermos que estes 6 são portuguesíssimos e provavelmente delirávamos bem mais com eles. O que tem o seu lado bom e o seu lado mau. O bom é que são nossos, estão cá, ali ao virar da esquina podem estar a dar um concerto, acessível a estarmos lá e aos nossos bolsos. O lado mau é que eles não têm o reconhecimento devido. Gostava de os ver bem longe daqui. Num Jools Holland, num Glastonbury, num Lollapalooza. Tem mais que qualidade para lá estarem e não de uma forma discreta. Até lá vamos tendo a sorte de nos cruzarmos com eles e testemunhar esta delícia.
Foi isso que foi ontem o concerto. Uma delícia, um encanto! O CCB estava cheio, embora não estivesse esgotado. Roa-se quem quis ir mas acabou por preguiçar. Os que lá estavam, estavam ansiosos. Ansiosos estavam também os próprios, como nos disseram, talvez ainda sem perceberem que podem se assumir como algo à parte. Apresentaram muitas das novas músicas mas também algumas antigas, de Chromatic, como “Green Grass#1”, “A While Can Be A Long Time” ou “An Ending” já no encore. Mas foi “I’ve Been Lost” que arrancou maior entusiasmo porque reconheça-se, é uma canção enorme. Das novas músicas foi “Be My World”, o primeiro single extraído de Diffraction/Refraction que mereceu maior reacção.
Afonso Cabral, João Gil, Luís Costa, Salvador Menezes, Tomás Sousa e ainda David Santos, o Noiserv quando não está aqui. Não se esqueçam destes nomes. São mestres da criação e são mestres da interpretação.
Setlist:
1. After December
2. Fall For You
3. Green Grass #1
4. A While Can Be A Long Time
5. I Wanna Be Your Fog
6. I’ve Been Lost
7. Sort Of
8. From Her Soothing Mouth
9. Until December
10. Post Summer Silence
11. Over The Sun
12. Be My World
encore
13. An Ending
14. Heart
15. Natural Habitat
(Fotos: Duarte Pinto Coelho)