
Inserido nas comemorações dos 20 anos da ZDB, há que tirar o chapéu à organização pela match perfeito entre artista e local para o concerto – o São Luiz como que parou de respirar durante hora e meia para melhor absorver cada acorde, cada batida, cada toque nas cordas do contrabaixo, cada palavra saída da boca de Will Oldham, o verdadeiro nome por trás da máscara Bonnie “Prince” Billy.
A acompanhar Will vieram 4 elementos, 2 guitarras, contrabaixo e bateria, e cedo deu para perceber que eram mais que simples executantes. Numa das guitarras esteve Matt Sweeney, colaborador em vários pontos da carreira de Will e que foi exímio a dar um lado mais rockeiro ao concerto. Na outra Emmet Kelly, também comparsa de longa data. No contrabaixo esteve Duncan Ferguson, um senhor muito certamente nascido e criado nas raízes do country/folk americano e que foi chamado a tomar o lugar de actor principal por 3 vezes, brindando-nos com músicas trazidas da sua carreira e que transpiravam a América profunda.
Depois há a obra de Will. 20 anos de carreira. Uma catrafada (ou catrefada) de discos em nome próprio, mais uma catrafada (ou catrefada) com outros nomes (Palace Brothers, Palace Music) e em regime de colaboração (Cairo Gang, Trembling Bells, o próprio Matt Sweeney), asseguravam-nos que material para o concerto não ia faltar. E claro, com a qualidade natural a que Will já nos habituou.
Temos portanto o cenário montado, o local certo, um suporte perfeito, uma base de muito material por onde escolher. O resultado só podia ser um; um enorme concerto que levou o São Luiz a colocar-se de pé, de bicos de pés mesmo, para aplaudir o momento vivenciado. Houve “I See a Darkness” em modo rock, houve “Quail and Dumplings” de nos revirar nas cadeiras, houve “A Minor Threat” de suspirar, houve “Go, Folks, Go” a dizer para confiarmos no nosso cérebro e no nosso corpo e houve a minha favorita “Easy Does It” tocada de forma completamente re-arranjada, vivaça. Parece que veio para promover o seu mais recente A Singer’s Grave – Sea of Tongues, mas ao mesmo tempo poucas são as músicas que dele sao tocadas. Pelo meio outras tantas que não conhecia mas que conquistaram pela simplicidade de forma e pelas letras, sempre a trazerem à tona o amor, a vida.
Antes do concerto li uma entrevista onde Will se afirmava uma pessoa humorada e, estando atento e à procura disso, muito disso vi (ouvi). No seu estilo quase único, vejo-o como um bardo do séc XXI, guitarra ao ombro, levando um pouco de folk, um pouco de country e muita muita intensidade para todo o lado, não se permitindo deixar indiferente quem o ouve.
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Fotos gentilmente cedidas por Luís Martins