Dantes, íamos ao cinema à segunda-feira. Agora é mais… sofá. Ou talvez não, que a ATR está apostada em minar falsos confortos e atiçar a nossa melomania. Bem hajam!
No início desta semana, a Associação Terapêutica do Ruído (ATR) organizou mais um serão de segunda-feira no Disgraça. E perguntam-me vocês: o que raio têm em comum os checos REK e Všetuly Sfinx (em digressão europeia) e os portugueses Loop Vadio? São os três duos, as duplas devem estar em promoção…
O pontapé de saída ficou a cargo dos Loop Vadio, o novo projeto dos músicos lisboetas Jorge Figueiredo e André Jessen (o primeiro pincelando loops de guitarra e baixo, o segundo entrelaçando tudo na bateria). A ocasional slide guitar fez o resto da festa. Resultado: belas composições plenas de groove, que nos obrigam a bambolear o corpo e a mente. Quem disse que uma noite de segunda-feira outonal, prometendo chuva, tinha de ser cinzenta?
Seguiram-se os checos Všetuly Sfinx, a delícia da noite, não desfazendo. Valeu bem a pena ter rumado à Disgraça sem qualquer ideia do que iria ouvir (se há quem só vá a concertos de bandas que conhece bem, já eu gosto muito de ir à descoberta). Por pudor, não poderei transcrever as primeiras notas que tomei do concerto dos Všetuly Sfinx. Traduzamos para “Com a breca, que bomba!”. Aviso: esta parelha checa engana. Começa de mansinho, conjugando as cordas da guitarra com a bateria de forma quase ambiental, próximo de um pós- rock – ora mais matemático à la Mogwai, ora mais jazzístico, como uns Tortoise -, até que, sem darmos pela acumulação da tensão, se dá o momento abrasador da sua libertação, enrolando-nos numa onda sónica gigante. Tudo isto pejado de groove!
Em jeito de progressão, o baile foi-se tornando mais denso, até porque nos REK quem faz companhia à bateria é um baixo poderosíssimo nos seus graves e bem temperado a distorção. É uma dança bem diferente a que seguimos agora, muito mais negra e angulada e livre. A bateria, forte e segura, deambula pelos terrenos do free jazz, enquanto o baixo tão depressa parece querer dominá-la e forçar a harmonia, como a empurra para caminhos divergentes. Os REK produzem um som pesado, como máquinas antigas que não falham, mas cheias de manhas que nos arrebatam a atenção.
Uma noite de segunda-feira bem passada. O pior foi a terça de manhã…