Os Pluto puseram finalmente fim ao seu hiato de quase 20 anos. Para o aniversário do Musicbox levaram músicas novas, boa disposição e uma saudável dose de nudez.
Há algumas coisas com a quais podemos sempre contar num concerto que envolva Manel Cruz: boa disposição, uma saudável dose de rock and roll à antiga e troncos nus. O concerto dos Pluto, projeto pós Ornatos Violeta de Manel Cruz e de Peixe, no 17º aniversário do Musicbox, não foi exceção à regra.
Formada em 2002, a banda de Manel Cruz, Peixe, Eduardo e Ruca, lançou apenas um álbum, Bom Dia, em 2004, tendo o projeto parado em 2006 por motivos de conflitos de agenda. Foi só em 2022 que os pudemos ver de volta aos palcos, primeiro num concerto nos Maus Hábitos, no Porto, e, depois, numa belíssima apresentação ao fim da tarde no primeiro dia do Vodafone Paredes de Coura desse ano. 2023 deu continuidade à reunião daquele que é talvez um dos projetos mais pesados de Manel Cruz: o lançamento de “Túnel”, faixa que quebra o silêncio de gravações de quase 20 anos e que nos deixa a pensar se um novo disco poderá estar nos planos antecedeu dois concertos marcados no Porto e em Lisboa, para fechar o ano em beleza. A junção desta vinda à capital com a programação de luxo do aniversário de uma das mais icónicas salas do Cais do Sodré foi ouro sobre azul e o Altamont não pôde deixar de marcar presença.
Depois de um pequeno percalço no arranque de “Só Mais Um Começo” (que foi rapidamente resolvido), o concerto decorreu sem grandes pausas entre canções. Os quatro Plutos percorreram os clássicos, em grande proximidade entre si, graças ao exíguo palco do Musicbox, e com o público, que esgotou não uma, mas duas sessões do regresso da banda portuense à capital. Se alguém temeu que, no segundo concerto, a banda se apresentasse mais cansada ou com menos pujança, rapidamente terá visto os seus receios dissiparem-se. “Esta é sobre uma coisa que guardamos muito bem” – foi a apresentação da gigante “A Vida Dos Outros” feita por um Manel Cruz já sem t-shirt. O calor que já se sentia dentro da sala passadas apenas duas canções subiu ainda mais com o entusiasmo do público que devolvia cada palavra da letra fervorosamente. “Sexo Mono”, dedicada a “quem já teve de ficar em casa contra a vontade e sexualmente frustrado” (quem nunca?), “O 2 Vem Sempre Depois”, com o seu baixo gingão, e até mesmo a nova “Túnel”, “sobre como o mal nos leva a energia e é preciso saber aceder a essa energia”, souberam a rock feito à antiga e fizeram brilhar a banda que parecia estar a gostar de se deixar levar pela energia e entusiasmo de um público claramente muito satisfeito de os voltar a ver. Já com três quartos da banda de tronco nu, Manel salvou o baterista Ruca de se desnudar também, tocando “Segue-me à Luz”. Seguiu-se a estreia em Lisboa de outra canção nova, “A Minha Vez de Construir”, tão nova que ainda não sabiam todos a letra de cor, facto que não impediu que soasse bastante bem. Para “Quadrado”, Manel deixou a sua guitarra de lado e concentrou-se em gritar o refrão “Não há quadrado que não role” às filas da frente que pulavam em resposta à proximidade. Afinal, todas as coisas podem rolar e era inegável o clima que rolava entre banda e público.
“Lição de Adicção” e “Líderes & Filhos Lda” precederam o encore e fizeram o vocalista confessar que o concerto lhes estava a saber mesmo muito bem (“e nestas coisas podemos exagerar à vontade”). Foi com a belíssima “Algo Teu” que regressaram ao palco, com a luz mais baixa e Manel a cantar, mais uma vez sem instrumento, e em registo confessional. Em contraste com este momento mais contemplativo, inesperado para o final de um concerto onde não faltou a energia e o suor, os Pluto terminaram com a mais feroz “Prisão”, tendo-nos deixado após um final apoteótico, onde se reuniram todos em volta da bateria de Ruca. “Muito obrigado, foda-se” foram as palavras finais de Manel Cruz. Nós não teríamos dito melhor.
Alinhamento:
- Só Mais Um Começo
- Bem Vindo a Ti
- A Vida Dos Outros
- Entre Nós
- Sexo Mono
- Convite
- Flores
- O 2 Vem Sempre Depois
- Túnel
- Segue-me à Luz
- A Minha Vez de Construir
- Quadrado
- Lição de Adicção
- Líderes & Filhos Lda
- Algo Teu
- Prisão
Fotografias por Rui Gato













