À beira de completar 20 anos de carreira, os Placebo nunca gozaram da credibilidade artística de muitos dos seus pares dos anos 90. Fosse o ar andrógeno do vocalista Brian Molko, fosse aquele visual quase a atirar para o Emo (blhargh!), fosse aquele universo eternamente juvenil que sempre encarnaram, a verdade é que raros são os fãs de rock que coloquem os Placebo à cabeça das suas bandas preferidas.
Perante isso, a banda foi lançando discos, todos eles bons. Alguns bem sucedidos, quando o mundo estava atento, outros vendendo milhões na Alemanha e pouco nos restantes mercados, mas todos eles com pontos fortes suficientes para justificar um respeito que nunca lhes foi dado. O período mais forte do seu percurso começou na estreia homónima, em 1996, e durou até Meds, 10 anos depois (escolhemos Without You I’m Nothing, de 1998, como seu melhor álbum).
No entanto, com algumas mudanças de formação que nunca alteraram o ADN da banda, sempre seguiram em frente. Até, no ano da graça de 2015, terem desembocado num palco que serviu de consagração a muitos outros grandes vultos da música popular das últimas décadas: o Unplugged para a MTV (é surpreendente e de assinalar que a estação ainda tenha algo vagamente a ver com a música).
Partimos para este disco, admita-se, com expectativas baixas. Afinal, o forte dos Placebo sempre foram as malhas e os riffs fortes e aquele ambiente de frustração adolescente que, num formato acústico, corria o risco de nos dar uma coisa apenas deprimente. Felizmente, os receio revelaram-se infundados.
O espectáculo foi gravado em Londres, em Agosto, perante um público de fiéis, como é da praxe nestes episódios. São-nos oferecidos um generosos 17 temas, que correm todos os discos da banda. Um dos pontos muito fortes do álbum são os arranjos. De facto, como a própria banda admite, o objectivo não foi simplesmente sentarem-se à volta das guitarras acústicas e tocarem as músicas da mesma forma que em disco, apenas sem electricidade. O grupo juntou-se na sala de ensaios durante vários meses, procurando soluções e vias menos óbvias para apresentar os temas. E isso nota-se, com agrado, no resultado final. Cordas, piano, percussões arábicas e arranjos originais fazem deste disco uma experiência rica de (re)descoberta. Mais, Molko controlou aquele seu tom nasalado que a tantos irritou, e aqui, num plano mais despido, está a cantar melhor que nunca.
Pontos que nos encheram particularmente as medidas: “36 Degrees”; “Every Me, Every You”, com o vocalista convidado Majke Voss Romme; “Where Is My Mind?”, cover dos enormes Pixies; “Protect Me From What I Want”, com Joan as Police Woman; e “The Bitter End”, que fecha o disco, entre vários outros.
Este MTV Unplugged é um triunfo que, naturalmente, dirá pouco a quem nunca foi fã da banda. Mas aposto que mesmo esses, ouvindo o disco do princípio ao fim, não conseguirão deixar de reconhecer uma coisa: os Placebo, por baixo de toda a maquilhagem, têm grandes músicas durante todo o seu caminho. E, na verdade, é isso que interessa. A prova da relevância de uma banda mal-amada está aqui.