The Hope Six Demolition Project, o mais recente disco de PJ Harvey, tem como paisagem vários cenários de degradação humana. Kosovo, Afeganistão e Washington D.C. E, para denunciar as condições deploráveis que testemunhou, PJ Harvey agarrou-se a um saxofone, juntou uma banda de nove elementos, compôs canções de protesto, gravou um disco e agora apresenta a sua nova obra mundo fora, Coliseu de Lisboa incluído.
Entre os nove homens vestidos de preto que se apresentavam em palco, surgia PJ Harvey, com a sua imagem de ninfa das trevas, como que uma bailarina que encarna o Cisne Negro.
O concerto começa, a percussão marca o ritmo, quase que militar, uma verdadeira marcha contra a injustiça. Em vez de dez indivíduos soltos, dois punhos ergueram-se em uníssono contra o que de errado está no mundo. As letras são entoadas pelo colectivo para dar força à mensagem. E se é a mensagem que importa, não serve de nada criar falsas intimidades. Não houve ali espaço para um “Olá Lisboa. Boa noite” mal pronunciado, aprendido cinco minutos antes de entrar em palco. Não existiu nenhum momento de interacção com o público, mas existiu um alinhamento forte e com uma origem revolucionária: “The Ministry of Social Affairs”, “The Community of Hope”, “The Wheel”, “A Line in the Sand”, “The Ministry of Defence”, “Dollar, Dollar” e “River Anacostia”.
Por entre os temas políticos de The Hope Six Demolition Project, surgem algumas canções de Let England Shake, havendo ainda espaço para a belíssima “Down by the Water” e a incrível “50ft Queenie”, uma canção cheia de energia e dinamismo que faz a plateia vibrar.
Já depois de “River Anacostia”, há espaço para um encore de duas canções: “Guilty” e “My Last Living Rose”, antes de saírem de novo, de forma definitiva.
Há um ano, Patti Smith anunciou neste mesmo local: “People Have the Power”. Polly Jean Harvey e companhia vieram relembrar-nos disso – que nunca o esqueçamos. A missão estava cumprida e a mensagem passada. Que partamos para um novo desafio e tentemos impedir que os Wall Marts desta vida sejam responsáveis pelo fim da dignidade humana.