Na maioria dos casos do showbiz: não existem segundas vidas. Mas no que toca ao caso Eric Burdon, o homem parece que já leva umas boas sete ou oito no bolso. Aos 72 anos, o rapaz de Newscastle que nos anos 60 espantou o mundo com a sua voz madura e quase negra em êxitos como “The House of the Rising Sun” ou “Don’t Let Me Be Misunderstood”, está de volta com um disco que é uma autêntica caixinha de boas surpresas.
Talvez o melhor da sua longa e turbulenta carreira, ‘Til Your River Runs Dry é um autêntico condensador de estilos que vão desde os rhythm and blues, ao rock, ao gospel, à soul, ao cajun, à americana, ao country e onde a esmagadora maioria dos temas nos fazem sentir em casa. Um sentido de familiaridade que faz com que tudo seja muito simples e eficaz.
Gravado na sempre musical Nova Orleães, mais parece que Burdon se sentiu livre de todos os constrangimentos e falhanços do passado. Com a voz enquanto arma afinada, o ex-Animals vai disparando tiros certeiros em todas as canções. “Water” mostra bem o retrato de um artista que parte em viagem em busca de luz para a sua alma. “Memorial Day” é um regresso às suas memórias de hippie enquanto a brilhante “Devil and Jesus” é uma canção que o seu contemporâneo Bob Dylan não se importaria nada de ter composto na sua fase de novo-cristão (1979- 1982).
Mas a coisa é sempre a subir, logo vem o intrigante “Wait”. Nunca um tango soou tão bem com uma voz bluesy. Logo de seguida “Old Habits Die Hard”, um rock vindo dos pântanos do Mississipi com um som sujo e directo. “27 Forever” é uma homenagem sentida aos seus amigos e companheiros de geração desaparecidos (Hendrix, Joplin , Morrison, etc). “River is Rising” tem ali uma aura mística. “Medicine Man” é um auto-retrato de quem está a envelhecer graciosamente e que entra um pouco em território Van Morrison.
Para finalizar a viagem, o clássico “Before You Accuse Me” que curiosamente dá baile às versões de Eric Clapton e Credence Clearwater Revival, não só pelo ar gingão do arranjo como pela paixão inerte à voz de Burdon. Antes disso a história de um sonho sob a forma de blues onde este veterano sonha ter sido recebido na Casa Branca pelo Presidente em “Invitation to the White House” onde este exclama” Eric, I’m So Glad You’re Here”…
Pode ter sido só um mero sonho, mas lá que Burdon fez um grande disco ao fim de tantos anos no limbo, lá isso é bem real.