Confessemos, não sabemos grande coisa acerca de O Nó. É um grupo brasileiro, de São Paulo, que acaba de gravar e lançar digitalmente as primeiras cinco músicas, agrupadas neste singelamente intitulado EP1.
Os quatro rapazes – Alexandre Ferlauto, Matheus Perelmutter, Mateus Bentivegna e Rodolfo Almeida – dão-nos uma descrição de si próprios no seu perfil Bandcamp: “O Nó, afinal, não é nada menos que a plena consumação e celebração do lixo digital com vernizes de nostalgia garageira. No bom sentido”. Juntemos a isto as tags que identificam o som, “experimental, psych, prog, São Paulo”, e já temos dados suficientes para avançar.
O início deste EP dá-nos uma pista convidativa: arranca com um sintetizador espacial sem qualquer tipo de vergonha; junta-se-lhe o baixo, a bateria, a guitarra; estamos lançados. “EG-1 1990” é uma de várias faixas puramente instrumentais, e funciona como grande porta de entrada, indo do espacial “a la Kubrik” até ao rock. O tema seguinte, “O Sol” é uma longa digressão de mais de seis minutos, de várias camadas e vários mundos que se encontram e se substituem, e talvez o melhor cartão de visita deste EP.
“Ouro e Fio” traz-nos o tal prog, um delírio de cavalgada que intui a técnica dos monstros do género, mas sem o estender demasiado.
Chega “Nublado” e ficamos com pena de nos estarmos a aproximar do fim do disquinho. O som é fantasmagórico, o ritmo mais trip-hop que psicadelismo. A voz, que foi o que menos nos convenceu nestes temas, regressa, com uma letra esotérica que ajuda a levar-nos para longe, até que o sintetizador alucinado surge para um solo esquizofrénico.
“Escuro sem fim (Quasar)” encerra em grande, puxado por um sintetizador do mais retro que há, parecendo roubando ao melhor rock progressivo de José Cid, aquando do seu mágico 10 000 anos depois entre Vénus e Marte. São 4:30 minutos de deambulação instrumental de primeiríssima água, uma jam cósmica a caminho de um qualquer planeta distante, e nós metidos numa fatiota retro-futurista ao estilo Espaço 1999.
Em termos vagos, O Nó inscreve-se na tradição de revivalismo psicadélico tão forte nos últimos anos. Mas aquilo que os distingue é que aqui não há uma tentativa de actualizar nada. Estamos mesmo metidos nessa nave, nesse outro mundo, a ver a terra de longe. A banda fala da justaposição de alta e baixa arte, do brega e da ironia na sua música. Não ouço isso aqui. Ouço quatro rapazes a fazerem o som que os inspira, e a serem muito bem sucedidos em levar-nos consigo nesta viagem astral.
Uma bela estreia, que nos deixa a salivar por mais.