
Começou o NOS Alive! As boas vindas foram-nos dadas oficialmente por Álvaro Covões, o homem forte da Everything Is New e por Rita Torres Batista, diretora de marca e comunicação da NOS, numa breve mas simpática conferência de imprensa. Muito para ver e ouvir neste primeiro dia. Desde logo, as boas novidades do recinto: relva, muita relva sintética para que a habitual poeira não se faça sentir. Mas também um pórtico de entrada renovado, um novo espaço para grávidas, o NOS Music Pulse, espécie de equalizador gigante com os spokes do logotipo da NOS a seguir a cadência das batidas da música, a Rua EDP de traça pombalina, e nesse local podemos encontrar os espaços EDP Fado, Museu da Eletricidade e o Museu MAAT, aberto a visitas virtuais.
Divulgadas as novidades, era tempo para começar a apreciar o dia e as bandas que o iam preencher. Sejamos sinceros, o dia 7 de julho não foi o mais forte em termos de cartaz no Alive. Uma das evidências disso será o facto de ter sido o único dia a não esgotar antecipadamente. Não que não houvesse grandes nomes no placar (Robert Plant e Pixies), mas sobretudo por não haver nenhuma banda actual ou clássica que enchesse a alma dos milhares de visitantes do festival. Perante esta realidade, o melhor é que comecemos pelo início…
O dia ainda estava bem soalheiro quando resolvemos dar uma vista de olhos num dos espaços mais subvalorizados do Alive, o Coreto G-Star Raw. Por lá passaram e irão passar bons projectos nacionais que poderiam estar perfeitamente a concorrer com bandas do palco Heineken. Quem sabe numa próxima edição… Quem nos levou até lá naquela hora foi a banda lisboeta GANSO que nos trouxe ondas lisérgicas muito apropriadas ao sol que estávamos a absorver. Na senda dos também lisboetas Capitão Fausto, os GANSO provam igualmente já ter uma boa legião de fãs/amigos, pois o coreto encontrava-se bem preenchido e com muitos a trautear as letras das sua canções. Músicas como “Gansão” ou “Lá Maluco” pedem um disco de originais, pois neles há talento para mais.
And Now For Something Completely Different! Let’s soul and rock ao mesmo tempo com os Vintage Trouble, no Palco Heineken (com novo aspeto, que me pareceu mais aberto e mais amplo), banda de rhythm & blues de Hollywood, Califórnia! Já por cá andam há cerca de seis anos, e abriram as hostilidades depois dos espanhóis L.A. e dos bem portugueses The Happy Mess. Vestidos a rigor, os Vintage Trouble incendiaram o palco com o seu típico ritmo frenético de festa. As almas negras de James Brown e de Otis Redding fizeram-se sentir e o público dançou e aplaudiu. Ty Taylor, o vocalista, puxou pelo vasto conjunto de pessoas que os ouviam (“I can’t ear you, clap your hands!” e “Let’s make this a dance party!”), e com estas palavras de ordem fez-se o espetáculo. Bem suado, bem ritmado! “One, two, three, put your pelvis with me!” Festa grande, festa louca!
O senhor que se seguia era John Grant, que apareceu em palco como se estivesse em casa, no conforto de uns largos calções Nike e t-shirt velha e larga também. Como já sabíamos, Grant não tem pose de star, bem pelo contrário. Os versos iniciais de “Queen of Denmark” dizem quase tudo sobre alguma inabilidade sobre esse propósito: “I wanted to change the world / But I could not even change my underwear”. Durante cerca de uma hora fomos viajando por canções mais recentes e mais antigas. Temos para nós que alguns dos temas do seu último Grey Tickles, Black Pressure estão uns furos abaixo das composições mais antigas, muito por força de alguma bizarria eletrónica que deles fazem parte, e por isso os momentos mais impactantes, embora menos festivos, tenham sido “Glacier”, “Queen of Denmark”, e sobretudo “GMF”, entoado por todo um mar de gente que assistia à atuação do músico americano. John Grant, no fim, parecia satisfeito com o concerto. O público também. Quando assim acontece, está tudo certo, está tudo bem.
No palco principal havia a expectativa para saber o que um dos monstros do rock poderia trazer a uma plateia ainda pouco satisfeita com os nomes por lá passados, The 1975 e Biffy Clyro. Robert Plant faz parte de uma pequena elite do rock de estádio que há muito desapareceu da face da terra, numa altura em que o rock era capaz de salvar almas por esse mundo fora. Em que um riff de guitarra valia mais que qualquer tweet. Em que fechávamos os olhos e comungávamos com os deuses. Esses tempos há muito já lá vão, mas alguns dos seus actores principais ainda continuam a caminhar a terra, embora sem deixar a marca devastadora que outrora fizeram deles eternos e míticos seres. Daí a expectativa para ver um desses deuses ao vivo. Voltaria o chão a tremer perante aqueles longos cabelos ondulados? A resposta é “nim”. Quem foi com expectativas altas para ver um concerto de Led Zeppelin ficou, certamente, defraudado. Robert Plant já não é o mesmo deus dourado dos anos 70 que arrebatava corações, que fazia mover o mundo com a aquela voz poderosa. O peso dos seus 67 anos impedem-no de o ser. É, de facto, uma merda envelhecer, mas Plant soube fazê-lo. Sabe os seus limites e o concerto de ontem provou-o. Plant desce um degrau e dá um concerto honesto, muito bem tocado e cantado. Revisita clássicos dos Zeppelin, como “The Lemon Song”, “Black Dog”, “Dazed and Confused”, “Babe, I’m Gonna Leave You”, um pouco de “Whole Lotta Love” e acaba com “Rock and Roll”, isto tudo numa outra roupagem, mais calma, mais terna, outras com toques afros, o que muito contribuiu a presença do multi-instrumentista gambiano Juldeh Camara. Respeitamos a opção de Plant por tentar encontrar outro caminho que não apenas tocar os clássicos e viver disso até ao fim das suas vidas, mas convenhamos: não preferíamos todos que ali ao lado estivessem Jimmy Page e John Paul Jones?
Do antigo deus dourado passámos para os heróis do rock alternativo dos finais dos anos 80, os Pixies. O que dizer deles, para não repetirmos o que dissemos sobre Plant, o tempo e a sua inexorável passagem, a idade e os limites que os anos vão inevitavelmente impondo a cada um de nós? Mesmo tratando-se dos Pixies, e para bem da verdade, o que aconteceu foi um concerto algo morno, embora a entrega de Frank Black e restante banda em palco fossem absolutas. Foi um concerto para uma geração mais idosa, e menos para os milhares e milhares de jovens que por lá circulavam. Mesmo para os mais crescidos, digamos assim, o concerto não foi um mar de rosas. De início, alguns problemas de som não ajudaram à festa, como também ajudaram pouco as canções mais novas, que revelam alguma falta de identidade Pixies. Claro que, já com meia hora de concerto, alguns dos seus intemporais hits fizeram soltar do palco alguma magia, mas soube a pouco para quem quereria tanto, como nós. Assim como dissemos a propósito de Robert Plant e da sua atuação, reforçamos agora a ideia de que um artista deve sempre trilhar novos caminhos, e por isso gostamos de ver um artista que não se fecha sobre um passado de glória. O resultado dessa nova vontade artística é que pode ter como consequência uma realidade sonora de menor relevância. É o que parece estar a acontecer com Frank Black e com a sua banda de sempre. Mas claro que ouvir “Here Comes Your Man”, para dar apenas um exemplo, volta a colocar-nos um largo e nostálgico sorriso na cara. Agora e sempre!
Estávamos perto de fechar o primeiro dia do NOS Alive e eram os Chemical Brothers que teriam essa honra.
O que se poderia esperar de um concerto dos The Chemical Brothers, quando a noite já ia longa? A pergunta quase não faz sentido: muita dança, muito ritmo, muito big beat vindo de Manchester, pois claro. E por isso, a dupla Tom Rowlands e Ed Simons não desiludiram. Com o aparato de luzes típico dos seus concertos, todo um mar de gente que estava para os ver e ouvir deram por bem empregue o tempo em que a banda esteve no Palco NOS. Alguns dos temas do mais recente Born In The Echoes ecoaram por boa parte do recinto e fizeram as delícias dos que, àquela hora, queriam sobretudo dançar em estado de quase transe. E foi assim que os últimos cabeças de cartaz do primeiro dia do NOS Alive encerraram o palco principal.
*com Carlos Vila Maior Lopes || Fotos: Francisco Fidalgo e Francisco Pereira
Respondendo à questão q coloca: NÃO, não preferíamos todos ver os LZ, em vez do Robert Plant, embora gostasse mto de os ter visto. Achei q era importante que soubesse que há quem o ache um artista sem par numa banda de músicos extraordinários, que deram ontem um concerto memorável que só perdeu pelo ambiente de histeria face às celebridades. Era suposto ser sobre música.