
Depois de muitos encontros com Lisboa e Porto, Rodrigo Amarante aventurou-se pela primeira vez numa digressão pelo país. Com partida de Lisboa, a rota de concertos continua por Faro, Leiria, Aveiro e Braga. Mas desta vez, ao contrário das últimas duas passagens por Portugal, o ex-Los Hermanos não trouxe consigo a sua banda. Em vez disso, escolheu apenas a companhia do seu violão, vingando-se com as suas palavras imaculadas pelos acordes. A presença dos outros músicos dá corpo ao álbum, mas é verdade que sem eles as canções renascem no seu estado mais puro.
Pouco depois das 21h30, Rodrigo Amarante entrou com o seu passo desajeitado e o seu ar descontraído, transparecendo aquela falsa timidez que rapidamente se traduz numa confortável empatia de velhos amigos que se juntaram para ver o seu amigo carioca tocar num acolhedor anfiteatro na mais bonita avenida de Lisboa. Já faz algum tempo desde o lançamento do seu álbum de estreia a solo; Cavalo foi editado em 2013 no Brasil e uns meses depois, já em 2014, na Europa, mas o furor de “Tuyo”, tema que o músico escreveu para o genérico da série “Narcos”, justificou mais uma leva de concertos, ainda centrados no álbum que o elevou ao estatuto de um dos maiores poetas e composições da nova geração de músicos brasileiros. A diferença, talvez, se prenda no nomadismo de Amarante: tem genes portugueses, fala e canta em inglês, francês e espanhol, e vive nos Estados Unidos, onde toca com músicos de outras tantas nacionalidades. E na realidade, ouvindo a “Mon Nom”, rapidamente aprendemos um pouco sobre esse seu sentimento de ser estrangeiro.
Antes das apresentações, Rodrigo Amarante introduziu-se com “Nada Em Vão”, uma balada calma, delicadamente trabalhada nos jogos de sons entre palavras e os versos, e “Mon Nom”, mas logo agradeceu a todos por terem vindo, “de coração”. Duas filas atrás alguém prontamente respondeu “És amor!”. Acho que não encontraria uma definição mais precisa do que essa. A rajada de temas de “Cavalo” prosseguiu com algumas explicações (muito possivelmente desconhecidas para muitos) sobre essas mesmas músicas. Segundo o carioca, “The Ribbon” casa com o tema “I’m Ready”, falando a primeira sobre um soldado morto que relembra o que o levou até à morte, e a segunda sobre o sentimento da mãe, que como muitas outras, recebem uma medalha pela morte do filho, simbolismo esse vazio perante a morte de um ente querido. Entre a apresentação íntegra – e a solo – do seu álbum “Cavalo”, Amarante foi inserindo um punhado de temas novos e ainda um outro nunca editado, mas todos eles apaixonantes de alguma forma. Sem ter adiantado muito sobre o novo álbum, pelo menos saímos com a garantia de que o que virá aí será bom.
“Cavalo”, faixa homónima do álbum, levou Rodrigo Amarante a largar a viola e escolher as teclas, onde interpretou ainda “Fall Asleep”, a música que diz ter escrito para si próprio para lutar contra a insónia: “a minha canção de nanar”. Depois de alguns pedidos para ouvir a “Tuyo” lá o cantor cedeu, esclarecendo ter sido apenas uma canção que lhe pediram para escrever e ele escreveu, não sendo seu hábito tocá-la. Antes do encore houve ainda uma música nova, terminada naquele mesmo dia, naquele mesmo palco, houve também um cheirinho a Orquestra Imperial (o seu primeiro projecto depois da extinção dos Los Hermanos) e um rasgo de melancolia com “The Ribbon”, guardada para o (falso) final.
Amarante foi num pé e voltou noutro, com pressa de recordar com uma versão acústica de “Condicional”, original de Los Hermanos. Mas logo depois de “Evaporar”, com os seus Little Joy, vingou antes a pressa de nos deixar. Mas só até voltar… com ainda mais para dar.
Fotos: Francisco Fidalgo