Cheguei tarde. Não tenho desculpa. Não fui o único. Malditos hábitos portugueses, vários de nós mal preparados para a pontualidade desta noite de concertos.
Os YONG YONG, esses, nem chegaram. Diz que não conseguiram o bilhete desde a Escócia (onde vivem) e deram um pequeno concerto via Skype. Como cheguei tarde requeri um comentário via olhos(«Ä»)zumbir com 1 Adjectivo Comparativo de Superioridade – os Young Young foram maiores que a distância –, e 1 Advérbio de Modo – estiveram sobretudo no Sec.XXI, parte 2.
AFONSO SIMÕES escondeu-se atrás de uma cortina, por sua vez escondida atrás de uma tela onde foi projectada, num loop de azuis e verdes fluorescentes alternados, a imagem de um pónei a andar à volta de um pau, caindo, levantando-se, cambaleando, a iminência de ser engolido pelo vórtice sugerido pelo seu próprio movimento. Um processo de indução ao transe que sustentou um concerto cuja mareagem hipnótica se foi adensando progressivamente. Uma linha de improviso electrónico que começou soturno, nebuloso, cavo, e que foi ascendendo até terminar em qualquer coisa mais… colorida, aérea?
A fechar. PUTAS BÊBADAS. Eu costumo escrever bêbedo mas pode-se escrever bêbado e isso não interessa para nada. Não surpreendentes nem tão violentos/ruidoso em versão gravada, putas que mos pariu em versão concerto. Gostava de sintetizar o espectáculo com a metáfora a um prolongamento dos cinco segundos que deve demorar um acidente de carro, daqueles em que tudo vai com o caralho, os pneus chiam, o metal parte-se, os vidros explodem, os ossos esmagam-se, as gargantas gritam, o sangue esguicha. Concerto pujante. Estivéssemos nós num ambiente adolescente e sujo e suado e alcoolizado e suburbano e roto e punk, e teria também o público acabado com umas felizes mazelas nos tornozelos e nas cabeças, e pelo menos um ténis desirmanado se veria a sobrevoar a sala. Infelizmente nem uns atacadores se viram. Ainda assim, no meio de tudo isto a pergunta: “Como é que um baterista tão franzino consegue bater com tanta força naquela coisa?”
(Fotos: olhos(«Ä»)zumbir)