O mais recente trabalho de estúdio do grupo norte-americano volta a apostar nesta mistura fresca de sons familiares.
Faço já uma declaração de interesses: esta que vos escreve tem um carinho especial por Nation of Language. Quando lançaram o primeiro álbum agarraram-me de imediato, com a sonoridade synthpop com um twist moderno.
O primeiro disco, Introduction, Presence, surgiu no contexto especial da pandemia, em pleno 2020, e terá passado debaixo do radar de muita gente, mas a mim foi como se me tivessem atirado uma bomba de nostalgia, de saudades de dançar e de fazer dançar.
Foi tal o entusiasmo que fiz questão de o dar a conhecer a todos os membros do Altamont – embora apenas um deles tenha sentido o mesmo arrebatamento que eu (temos também em comum um apreço estranho por post-punk turco).
Desde o lançamento do primeiro disco que têm sido bastante produtivos: seguiu-se A Way Forward (2021), Strange Disciple (2023) e, agora, este novíssimo Dance Called Memory.
O mais recente trabalho de estúdio do grupo norte-americano (apadrinhado pelo baterista dos The Strokes, Fabrizio Moretti), volta a apostar nesta mistura fresca de sons familiares. A inspiração em Orchestral Manoeuvres in the Dark (OMD) continua bem presente mas incorpora outros elementos que lhe dão corpo e substância.
Este é também um álbum mais íntimo, onde se sente alguma fragilidade e tristeza nas canções, melancolia cruzada com ritmos de dança.
Esta mistura que parece contraditória sente-se logo na faixa de abertura, “Can’t face Another One”, uma melancolia densa, que vai aligeirando à medida que o disco também avança. Já “I’m Not Ready for the Change” mostra algum conflito interior do autor, sempre em ritmo pop. Já “Can You Reach Me?” é efetivamente introspetiva e mais obscura. E é esta constante dicotomia entre a melancolia das letras e a vivacidade do instrumental que tornam as composições tão interessantes.
O single, “Innept Apollo”, vai beber à vitalidade e energia do primeiro disco que tanto me apaixonou e é uma das faixas que mais se destacam. “Under the Water” é outro tema excelente, com uma linha de sintetizador viciante, de fazer abanar o pé, com a intensidade a aumentar até culminar em explosão de som.
Apesar da maior complexidade, introspeção e equilíbrio delicado entre letras melancólicas e ritmos interessantes, este é o trabalho menos explosivo e dançável até agora. Vai beber mais à synthpop do que ao rock, é mais lento e homogéneo. Algumas faixas pecam por ser muito parecidas umas com as outras, tornando o disco, para quem não é um grande aficionado do estilo, um pouco monótono.
Ainda assim, este é um disco bem conseguido, amadurecido, bem pensado e bem executado. Vale a pena ouvi-lo com atenção e voltar lá, dançar como dançaria Andy McCluskey, bater o pé ao ritmo do sintetizador mas também refletir sobre as letras mais introspetivas.
Regressemos, pois, à declaração de interesses inicial: esta que vos escreve continuará sempre o lobby a favor de Nation of Language. Oiçam o disco e divirtam-se!