Brett Anderson e Mat Osman cresceram juntos, andaram na escola juntos, passaram por fases esquisitas de adolescência juntos, e todo este tempo foi passado com The Smiths e David Bowie no ouvido. Tiveram, até, duas mais bandas juntos, durante os anos 80, mas foi quando se mudaram para Londres e Anderson conheceu a mulher que seria o tópico principal de muitos grandes hinos do movimento musical que foi o Britpop.
Justine Frischmann e Brett Anderson então começaram um romance, paralelo com uma nova banda com Mat Osman e cedo começaram a ensaiar. Um famoso anúncio à procura de músicos foi posto na NME citando as influências da banda e terminando com «No Musos», o que é o equivalente de dizer «Hipsters não» nos dias de hoje.
O anúncio foi respondido pelo prodigioso guitarrista Bernard Butler, que mais tarde se tornou infame por lançar um ultimato que forçaria o produtor Ed Buller a deixar a banda, tornando Butler no produtor principal, se quisessem que ele ficasse na banda a meio das gravações do criticamente aclamado álbum Dog Man Star, por muitos considerado um dos melhores álbuns da história da música.
Para a surpresa de todos na banda, um baterista que respondeu ao anúncio e imediatamente se juntou ao grupo para ensaiar foi o lendário membro dos Smiths, Mike Joyce. Este optou, cedo, por sair da banda (mantendo-se próximo a esta, ainda assim) com receio que perdesse a sua individualidade ao tornar-se demasiado semelhante aos Smiths. Não tardou, no entanto, até o punk rocker Simon Gilbert se juntar à banda e esta se encontrar a abrir concertos para os futuros rivais em crescimento, os Blur.
De forma a tentarem conseguir mais concertos com os Blur, os cinco membros da banda decidiram usar Justine Frischmann para cativar o vocalista, Damon Albarn. Mal sabiam eles que estes últimos se apaixonariam, e Frischmann manteria, durante meses, uma relação com Albarn e outra com Anderson. O belíssimo hit «Pantomime Horse», que se tornou num dos temas mais famosos da banda, resultou do conhecimento de Brett Anderson sobre a relação da então namorada com Albarn, e foi com a letra desta música que ele a confrontou.
Justine Frischmann sai da banda em 1991, e Anderson e companhia compõem «Animal Lover», mais uma música sobre Frischmann e Albarn, que mais tarde se tornaram conhecidos como o Rei e Rainha da Britpop. Sem tardar, a banda assina um contrato com uma afiliada da Sony, a Nude Records, liderada por Saul Galpern, e é imediatamente atirada para o público como o «futuro da música».
Lançam «The Drowners» e «Animal Nitrate» (e realço aqui que estes dois temas sobre violação, homossexualidade e brutalidade doméstica não foram feitos sob a influência de drogas, contrariamente ao que se pensava). Após uma imensamente controversa performance da banda nos Brit Awards de 1992, o álbum homónimo da banda é lançado, finalmente, após muita publicidade, e é bem recebido pelos críticos, apesar de muitos não perceberem o porquê do colossal louvor que foi dado à banda pela imprensa antes do lançamento.
Seguem-se mais dois anos de imensa pressão na banda por parte dos fãs e da imprensa e, durante muitas entrevistas, Brett Anderson faz questão de alimentar a controvérsia que já rodeava a banda após a capa do primeiro álbum que mostrava um beijo homossexual (entre duas mulheres, como foi mais tarde confirmado por Mat Osman, e não dois homens, como se pensou na altura). Nestas entrevistas Anderson diz palavras que se tornam quase imediatamente clássicas, quando lhe perguntam sobre a sua sexualidade, o frontman responde «Sou um homem bissexual que nunca teve uma experiência homossexual». O baterista, Simon Gilbert, quebrou então tabus, também, ao descrever-se a ele próprio, em tom de brincadeira, no entanto honesto, como «Um homem homossexual que nunca teve uma experiência heterossexual».
Muitos membros da comunidade gay mostram relacionaram-se com as letras e músicas desta grande banda, o que a ajuda a crescer. No entanto, a pressão e a fama levam os membros do grupo a ceder ao ecstasy, e mais tarde à cocaína. Anderson regozija na fama com o resto da banda, mas Bernard Butler recusa o estilo de vida de «rockstar», e as discussões começam. Butler ameaça Anderson, Gilbert, o manager, Ed Buller e até Saul Galpern antes de ser expulso da banda pelo frontman.
A imprensa vira as costas à banda mal as notícias da separação se espalham, e a maior parte nem dá azo à possibilidade do grupo ter sucesso sem Butler. Após um grande número de audições, um rapaz de 17 anos que idolatrava a banda foi o escolhido, unanimemente, sem hesitação, pelos três restantes membros da banda, como novo guitarrista. Richard Oakes é tão bem recebido pelos críticos como Bernard Butler fora, o que leva este último a reter rancor acerca do seu substituto que perdura até aos dias de hoje. Oakes e os três membros originais terminam a produção de Dog Man Star, e este é lançado e imediatamente recebido com elogios magníficos.
A credibilidade voltara e, apesar das gloriosas críticas, Anderson e o resto da banda sentem-se irritados com a tour, estando sem vontade de tocar as músicas gravadas com Bernard Butler, que consideravam completamente psicótico, na altura.
Com vontade de se despir completamente do fardo que foi o lendário Dog Man Star, Anderson concentra-se em compor um novo álbum de imediato, este mais leve e divertido, para o lado pop. Começam a gravar com Richard Oakes e cedo se tornam numa fábrica de êxitos quando o primo de Simon Gilbert, Neil Codling, se junta à banda como teclista e ocasional guitarrista rítmico. «Filmstar», «Trash» e «Beautiful Ones» tornam Coming Up num clássico instantâneo quando este é lançado em 1996, mas quanto mais a fama cresce, mais a banda se deixa levar por maus hábitos. Após uma noite particularmente pesada, Mat Osman e Simon Gilbert decidem afastar-se da droga por completo, enquanto Neil Codling e Brett Anderson se tornam mais e mais próximos, e as noites extremas levam o teclista a contrair Sindrome de Fadiga Crónica.
Justine Frischmann separa-se de Damon Albarn, o que leva aos clássicos da Britpop «No Distance Left To Run» e «Tender», dos Blur, e volta a aproximar-se da sua velha banda. Após um concerto de Suede em que ela e Anderson se juntam e tocam uma música dos Elastica (banda liderada por Frischmann), a então namorada do vocalista dos Suede encontra-os juntos na cama, e pouco tempo depois embarca num avião para a Índia para começar uma nova vida. Frischmann afasta-se de novo e a banda termina o muito electrónico Head Music, que conta com pouquíssima contribuição por parte do baterista e do guitarrista.
O álbum é recebido com críticas mistas, mas ainda assim estreia em primeiro lugar nas tabelas, tal como os três primeiros trabalhos. Anderson lentamente afasta-se das drogas e do álcool, e Neil Codling falha imensos concertos, queixando-se da sua doença, o que começa a irritar Anderson e Oakes que não levam esta a sério.
A tour acaba, e Anderson muda-se da cidade para o campo, onde começa a compor A New Morning, um álbum onde se tenta afastar de tudo o que os Suede representam: pinta o cabelo de loiro, veste-se de forma colorida, muda a sua forma de cantar e inspira-se por livros e a cultura folk. Neil Codling desiste da banda devido à sua doença, e é substituido por Alex Lee.
A New Morning é lançado após cinco anos e três diferentes gravações do álbum, com produtores distintos, e é recebido bem pela maior parte dos críticos que derrubaram o Head Music, e mal pelos fãs deste último. Os ânimos acalmam e a banda dá o seu último concerto, onde Anderson promete pelo menos mais um álbum no futuro, e separa-se.
A banda ressurge para um concerto único no Royal Albert Hall para o Teenage Cancer Trust, e este corre tão bem que Anderson e companhia decidem voltar a fazer música como um grupo. É Oakes que regressa como guitarrista principal e Bernard Butler, apesar de não ter sido convidado para o regresso por receio de tensões entre ele e o ‘novo’ guitarrista, admite que a banda está melhor sem ele, e que os apoia em todos os sentidos, agora que os seus problemas passam despercebidos como águas passadas.
Bloodsports é lançado em 2013 e recebido com imenso louvor, atirando a banda de novo para os tops. Após uma série de concertos da tour deste disco (incluindo no Coliseus do Porto e Lisboa), os Suede voltam ao estúdio para preparar um novo álbum, afirmando, esperançosamente, que o que estará para vir em 2015 será para o Bloodsports o que Dog Man Star foi para Suede.
Artigo de Eduardo Marques
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