A história dos Oasis começa com os Rain, banda formada em 1991 em Manchester pelo guitarrista Paul “Bonehead” Arthurs, o baixista Paul “Guigsy” McGuigan, uma caixa de ritmos (mais tarde substituída por Tony McCarroll) e o cantor Chris Hutton (mais tarde substituído por Liam Gallagher). Já com esta formação final e o nome mudado para Oasis (nome de um recinto em Swindon onde os Inspiral Carpets terão tocado, segundo um póster pendurado no quarto de Liam), conseguiriam o seu primeiro concerto a abrir para os Sweet Jesus no famoso Manchester Boardwalk. Foi após esse concerto que o irmão mais velho de Liam, acabado de chegar duma tour dos Inspiral Carpets na qual era roadie (daí provavelmente o póster), acaba por se oferecer para entrar na banda como guitarrista. Na condição de ficar a mandar, de só tocarem as músicas dele e de passarem a ensaiar todos os dias, em vez de uma vez por semana como até então. Entra assim em campo Noel “The Chief” Gallagher.
Sob o comando de Noel, a banda ganha ética de trabalho (com ensaios diários pela primeira vez) e canções. Ao fim de mais de um ano de ensaios, concertos e gravações de demos entre temas que Noel já tinha na gaveta previamente e material novo (e consequente afastamento quase-darwiniano das composições de Bonehead e Liam, alegadamente só quatro e facilmente apagáveis da história), uma noite de Maio de 1993 em Glasgow muda a vida da banda. Com um grupo de amigos, viajam para ver os Sister Lovers, vizinhos de sala de ensaios, e acabam por forçar não só a entrada no King Tut’s Wah Wah Hut como também em palco, apesar de não estarem marcados para tocar. Tocaram “Rock n’ Roll Star”, “Bring It On Down”, “Up In The Sky” e uma versão de “I Am The Walrus”, e saíram com uma proposta de contrato feita por Alan McGee, dono da Creation Records que já tinha lançado, entre outros, Primal Scream, Jesus and Mary Chain, Teenage Fanclub, House of Love e My Bloody Valentine. Em 1992 já tinham sido rejeitados pela Factory Records de Tony Wilson, mas agora a fama de descobridor de talentos de McGee fazia com que a concorrência se apresentasse imediatamente. Neste caso, a Mother (pertencente aos U2) e a Go! Discs assediaram a banda, tendo a primeira mesmo duplicado a oferta da Creation, mas Noel estava decidido e com a palavra dada a McGee.
Daí até ao lançamento do primeiro álbum, Definitely Maybe, passou pouco mais de um ano, duas tentativas de gravação mandadas para o lixo, uma “white label demo” do tema “Columbia” e três singles entre Abril e Agosto de 1994 que fizeram estremecer o meio musical britânico: “Supersonic”, “Shakermaker” e “Live Forever”. Cada um deles acompanhado de lados-B igualmente à altura dos temas principais. E a popularidade dos Oasis propagava-se meteoricamente, se “Supersonic” apenas atingira o 31º lugar do top de singles, “Live Forever” entrou directamente para o top 10. Três semanas depois de “Live Forever”, é lançado o álbum que não só se apodera do primeiro lugar do top, como se torna o álbum de estreia mais vendido de sempre no Reino Unido.
Um dos catalisadores da fama dos Oasis enquanto banda era claramente a personalidade dos dois irmãos, rufias dum subúrbio pouco recomendável de Manchester transformados em estrelas, e o choque entre essas mesmas personalidades, umas vezes verbal mas muitas vezes físico. O frontman dono do mundo contra o cérebro dono da banda, e ambos contra o resto do mundo quando se dignavam a jogar na mesma equipa. Material para fazer salivar a imprensa britânica permanentemente sedenta de sangue. O primeiro episódio profusamente espremido foi uma viagem de ferry para a Holanda para um concerto que não chegou a acontecer, devido à detenção de quase todos os elementos da banda por confrontos com adeptos do Chelsea (sendo eles ferrenhos do Manchester City, o clube de raízes working-class da cidade), safou-se Noel, que estava a dormir. Um ano mais tarde seria editada a gravação duma entrevista para o NME em que Noel e Liam acabam (ou começam logo) a confrontar-se em termos pouco fraternos sobre o incidente do ferry. Torna-se a primeira entrevista de sempre a entrar nos charts de singles. O sonho do sexo, drogas e rock n’ roll tornava-se realidade e os Oasis não estavam dispostos a desperdiçar um segundo desse sonho a fazer cedências ao politicamente correcto. As entrevistas, programas de televisão, cerimónias de entregas dos prémios que começavam a chover na direcção deles eram o parque de diversões da banda, e o conteúdo das brincadeiras era alcoólico, psicotrópico, ofensivo à moral pública e a tudo e todos em redor, mas muitas vezes simplesmente gozão.
No olho do furacão que se desenvolvia ao seu redor, as coisas não eram necessariamente pacíficas, bem pelo contrário. No mês seguinte ao lançamento de Definitely Maybe inicia-se uma tradição de digressões problemáticas nos Estados Unidos, que duraria toda a existência da banda. E começou logo em grande, com Noel a abandonar a banda após um concerto em Los Angeles em que Liam aparece em muito mau estado, tem uma má performance, insulta o público e atira uma pandeireta contra Noel. Noel desaparece para São Francisco, é eventualmente descoberto por um elemento da Creation e convencido a regressar à banda, e deste episódio ainda nasce mais um famoso lado-B: “Talk Tonight”, alegadamente sobre uma amiga com quem Noel se refugiou e que também ajudou a convencê-lo a regressar à banda.
Definitely Maybe ainda tem mais um single para atirar ao mundo, “Cigarettes & Alcohol”, que entra para o sétimo lugar do top em Outubro. Noel alegadamente recusa um quinto single, por ser território-Thriller, e se isso acontecesse exigiria um avião privado e um macaco de estimação. Mas ainda em 1994 há música nova, o single natalício “Whatever”, que não vem em nenhum dos álbuns de originais mas que se torna no maior sucesso da banda até então: terceiro lugar do top.
1995 começa para os Oasis com a gravação em Abril de um concerto para lançamento em VHS, Live By The Sea, o lançamento do primeiro avanço do segundo álbum também em Abril, “Some Might Say”, o despedimento do baterista Tony McCarroll por incapacidade técnica, e a sua substituição por Alan White, irmão mais novo de Steve White, baterista que acompanhava Paul Weller desde os Style Council. Com o novo baterista, a banda retoma as gravações enquanto a imprensa começa a cozinhar uma rivalidade com os Blur, apesar de até então os Oasis terem tentado distanciar-se do fenómeno Britpop. O lançamento na mesma semana de Agosto de singles de ambas as bandas, “Roll With It dos Oasis” e “Country House” dos Blur, vem atirar gasolina para a fogueira e, no meio do entusiasmo e vários excessos, Noel afirma a um jornal que deseja que Damon Albarn e Alex James dos Blur apanhem SIDA e morram. Mais tarde pede desculpa pelas declarações, mas o circo estava montado. O single dos Blur ganha a batalha, mas não seria a última.
Em Setembro sai o terceiro single pré-álbum, “Morning Glory”, e sai temporariamente o baixista Tony McGuigan. É substituído por Scott McLeod que pouco mais faz que aparecer no vídeo de “Wonderwall”, abandonando a banda a meio de uma digressão nos Estados Unidos (onde mais poderia ser?). McGuigan regressa à banda e em Outubro chega às lojas o segundo álbum, (What’s The Story) Morning Glory?, que mais uma vez bate recordes de vendas na primeira semana e se torna o quarto álbum mais vendido de sempre no Reino Unido. Às costas de mais três singles (sim, desta vez foram seis!) como “Wonderwall”, “Don’t Look Back In Anger” e “Champagne Supernova”, da sonoridade e arranjos mais cuidados, com a utilização de secções de cordas como foi iniciado em “Whatever”, e de refrões gigantescos, os Oasis são catapultados para uma fama a nível mundial, e este álbum para numerosas listas de melhores álbuns do ano/década/todos os tempos. As influências de bandas como os Beatles, The Jam e Smiths fazem-se notar cada vez mais, bem como outras “vénias” que Noel faz a diversos outros autores que resultariam em alguns casos em processos, indemnizações e partilha de créditos de autoria, casos de Gary Glitter em “Hello”, Stevie Wonder em “Step Out” (que acabaria por ficar de fora do alinhamento final) e Neil Innes em “Whatever”. Ainda a ferver com a prévia batalha de singles, os Blur antecipam o lançamento de The Great Escape de modo a coincidir com o lançamento de …Morning Glory? mas na luta de álbuns, prevaleceram os Oasis.
1996 torna oficialmente os Oasis numa banda de estádios, e que melhor estádio para afirmar o sucedido que Maine Road, a (já defunta) casa do seu adorado Manchester City? Duas noites de Abril com lotação esgotada e mais um lançamento em vídeo: …There and Then. E quando até um estádio se torna pequeno para a popularidade da banda, seguem para Knebworth Park. Os números são quase inacreditáveis: meio milhão de pessoas divididas por duas noites, mais de dois milhões e meio de candidaturas a bilhetes, lotação esgotada em cinco minutos, na altura um recorde de audiência para espectáculos no Reino Unido, ainda hoje um recorde de procura de bilhetes. Noel proclama em palco “This is history”, John Squire dos Stone Roses junta-se à banda para o solo de “Champagne Supernova” (tocado no álbum por Paul Weller) e Liam aparece na segunda noite claramente ressacado porque alegadamente nem sabia que ia haver uma segunda noite.
Por esta altura, os Oasis eram sem sombra de dúvida a maior banda britânica desde os Beatles, os novos heróis da classe operária, os rufias do bairro social que se safaram à grande sem deixar de usar os casacos de fato de treino da Adidas. Nada os poderia parar excepto, claro, uma digressão nos Estados Unidos.
Ainda na ressaca de Knebworth, a gravação do MTV Unplugged em Londres fica marcada pela ausência de Liam, que alega uma dor de garganta a dois minutos de subir ao palco. Noel assume as vozes e ainda troca bocas durante o concerto com Liam, que vê o concerto de um camarote enquanto fuma e bebe cerveja. Na mesma semana, a banda parte para a América sem Liam, que acha mais importante procurar casas com a namorada. Noel continua a acumular a função de cantor até que Liam se junta à banda a tempo dos MTV Video Music Awards para mais uma prestação aparentemente alcoolizada, gesticulando para Noel durante um solo e cuspindo prolongadamente em palco. Noel regressa a casa separado do resto da banda, mas acabam por voltar para acabar a digressão.
Chega a ser ponderada a hipótese de umas férias prolongadas para a banda mas em vez disso, os Oasis fogem para a frente e iniciam as gravações do terceiro álbum. São mais que muitos os episódios em redor dessas sessões, entre os conflitos internos na banda, a cocaína cuja posse levou à detenção de Liam após uma entrega dos Q Awards, a outra cocaína toda que aparecia no estúdio sem ninguém ter sido preso, a pressão e expectativa da imprensa musical, a ubiquidade do apelido Gallagher em notícias de tablóides, até o convite a Noel para uma recepção no número 10 de Downing Street pouco após a subida ao poder de Tony Blair. Tudo isto cria uma onda avassaladora de expectativa quanto ao que os Oasis conseguiriam fazer a seguir. A resposta veio no primeiro avanço do álbum, “D’You Know What I Mean?”, um single cujo “radio edit” tinha mais de 7 minutos de duração, um vídeo com dezenas de helicópteros, mais de 20 pistas de guitarra, códigos-Morse e vozes em reverse. Denso e indulgente como uma maior banda do mundo no pico dos seus superpoderes e excessos.
Os limites ao acesso à banda e ao disco impostos pelo management só serviram para incendiar ainda mais a curiosidade do público, mesmo que a imprensa não achasse piada a todos os vetos e contratos de não-divulgação prévia. Até que numa quinta-feira de Agosto de 1997, Be Here Now vê a luz do dia, começando logo por causar choque a data de lançamento. Com as tabelas de vendas a serem contabilizadas de segunda a domingo, o álbum só teria metade do tempo para atacar os “charts”. E ainda assim, novos recordes foram batidos, tanto os de primeiro dia de vendas como os de primeira semana, com números a chegar perto das 700.000 cópias em quatro dias. Muitos anos mais tarde, uma entrevista da MTV a um jovem na fila para comprar o álbum no dia de lançamento chamado Pete Doherty torna-se uma sensação no YouTube.
As críticas ao disco derretem-se inicialmente em elogios, chovem cinco estrelas de cada vez em quase todas as publicações, opinião que foi sendo alterada ao longo dos tempos para reticências veladas ou depreciações directas, até pelos próprios envolvidos na gravação, sendo os “crimes” indiciados a sobre-indulgência que se manifestava em temas demasiado longos e desnecessariamente densos (“My Big Mouth” chega a ter 30 pistas de guitarra; “All Around The World” tem mais de 9 minutos, uma orquestra, três mudanças de tom, as namoradas/mulheres dos elementos da banda a fazer backing-vocals juntamente com um Richard Ashcroft no meio da confusão, e um “reprise” instrumental), para além da própria qualidade técnica da gravação, tão carregada de médios e agudos pelos overdubs de guitarras que torna quase impossível ouvir um baixo ao longo do disco inteiro.
Be Here Now coincide (ou talvez marque mesmo) o início do declínio da Britpop, e dos Oasis por arrasto. A digressão do álbum estende-se até 1998, sem registos trágicos na parte norte-americana para variar, e com o anúncio de uma pausa mais prolongada na exposição pública pela primeira vez em quatro anos, é também anunciada uma compilação de 14 dos muito aclamados lados-B: The Masterplan. No entanto, mesmo a pausa na banda não altera muito o estilo de vida dos seus elementos, e os efeitos começam a fazer-se sentir particularmente em Noel: ataques de pânico motivados pelo excesso de cocaína causam-lhe um susto e motivam um corte radical com as drogas. O resto de 1998 é passado a recuperar, numa breve colaboração com os Chemical Brothers em “Let Forever Be”, à semelhança do que tinha acontecido dois anos antes com “Setting Sun”, e a compôr para que no início de 1999 a banda se juntasse para a gravação do quarto álbum, com Mark “Spike” Stent como novo co-produtor em vez do sempre-presente até então Owen Morris.
A permanentemente tumultuosa relação entre os elementos não amansou com a pausa, bem pelo contrário, e em Agosto de 1999 são anunciadas as saídas do guitarrista Paul “Bonehead” Arthurs e do baixista Paul “Guigsy” McGuigan a meio das gravações, entre rumores de discussões e violações da “lei seca” quanto a álcool e drogas recém-imposta por Noel, e conferências de imprensa dos irmãos Gallagher a assegurar a continuidade da banda. Os seus substitutos são encontrados dentro do plantel da entretanto defunta Creation Records: Colin “Gem” Archer entra para a guitarra vindo dos Heavy Stereo e Andy Bell passa de guitarrista e principal compositor dos Ride e Hurricane #1 para o papel de baixista. Ambos já entram com as gravações terminadas por Noel, que apagou e regravou as partes dos dissidentes, estreando-se ao vivo numa digressão norte-americana em Dezembro.
Com a já referida morte da Creation Records, a banda funda a sua própria editora, a Big Brother Recordings, para editar os seus álbuns daí em diante, começando em Fevereiro de 2000 com Standing On The Shoulder of Giants, uma tentativa de viragem de Noel em termos sónicos, com arranjos mais despidos que Be Here Now e uma aproximação a elementos do rock psicadélico e alguma electrónica. Houve até pela primeira vez a abertura a uma composição de Liam, que também não foi considerada uma boa ideia. A recepção foi menos entusiástica que outrora, focando-se na perda tanto dos dois elementos como do mentor Alan McGee e toda a loucura inerente à vida na Creation Records, bem como a troca da cocaína por calmantes por parte de Noel. Apesar de ter chegado ao primeiro lugar do top de vendas, e de os três singles (“Go Let It Out”, “Who Feels Love?” e “Sunday Morning Call”) terem figurado no top 5, Standing On The Shoulder Of Giants permanece como o álbum menos vendido da carreira dos Oasis.
A digressão seguinte traz novos capítulos à saga dos irmãos. Não nos Estados Unidos mas em Barcelona, um concerto é cancelado devido a uma tendinite de Alan White e a banda passa a noite a beber. Nova discussão entre Liam e Noel, novo regresso a casa de Noel, desta vez com uma recusa de voltar a tocar com a banda fora do Reino Unido. A banda termina a parte europeia da tour sem Noel, que se junta para os concertos “em casa”, culminando com duas datas no estádio de Wembley para a gravação do álbum ao vivo Familiar to Millions, aproveitando a nova força da banda ao vivo por via da entrada de Gem e Andy, músicos mais dotados que Bonehead e Guigsy. A segunda data acaba por ser praticamente perdida em termos de gravação devido a uma directa de Liam, que aparece em palco ainda bêbado, a enganar-se em algumas letras, a inventar deliberadamente outras e a insultar meio mundo no intervalo disso.
Entusiasmado com a contribuição de Gem e Andy ao vivo, Noel decide avançar para um novo álbum entre as datas da digressão de 2001, abrindo também espaço na produção e até na composição aos novos elementos. Entretanto a parte americana da digressão é realizada em conjunto com duas outras bandas de irmãos com relações complicadas, os Spacehog e os Black Crowes, e denominada apropriadamente “Brotherly Love Tour”. Habitualmente os concertos acabavam com as três bandas fundidas em palco a tocar covers de Beatles, Bee Gees ou Pink Floyd.
Com três temas de Liam, um de Gem, um de Andy, seis de Noel e uma pequena ajuda do ídolo-tornado-amigo Johnny Marr (o principal motivo da predilecção de Noel por guitarras Gibson ES-355 vermelhas) em três temas, o quinto álbum dos Oasis sai em Julho de 2002, com o título Heathen Chemistry, direito para o primeiro lugar do top. Antecedido por dois singles (“The Hindu Times” e “Stop Crying Your Heart Out”) e com mais dois lançados posteriormente (“Little By Little” e “Songbird”), todos a atingir o top 3, Heathen Chemistry é um álbum de muitas primeiras vezes na história dos Oasis: primeira vez que não recorrem a um produtor externo à banda, primeira vez que Noel não monopoliza a composição (excepção feita a “Little James” no álbum anterior, da autoria de Liam), primeira vez que editam uma faixa escondida (o instrumental “The Cage”), primeira vez que um single não é da autoria de Noel (“Songbird” foi escrito por Liam).
A digressão que se segue volta à tradição dos problemas em solo americano, desta vez com espectáculos cancelados devido a um acidente de viação que envolve Noel, Andy e o teclista que acompanhava a banda na estrada, Jay Darlington. O ano não acabaria sem que Liam voltasse a ser detido, desta vez na companhia de Alan White e três elementos da entourage da banda, após uma noite de copos e drogas no bar de um hotel em Munique que acabou em pancadaria com locais, Alan a ser atingido com um cinzeiro na cabeça e Liam a perder dois dentes.
O ano de 2003 é de aparente calmaria após o final da digressão em Março, retomados os concertos adiados pelos incidentes em Indianapolis e Munique. Para o final do ano ficam agendadas sessões de estúdio para o sexto álbum, com a produção dos Death In Vegas (com quem Liam tinha gravado o single “Scorpio Rising” em 2002), mas logo à entrada de 2004 o habitual turbilhão em redor dos Oasis volta a fazer-se notar com a saída de Alan White, à data o não-Gallagher com mais tempo de Oasis. O substituto é Zak Starkey, que acumula funções com o lugar que outrora foi de Keith Moon em The Who. E filho de Ringo Starr, como que a fazer cumprir o “fanatismo” dos Gallagher pelos Beatles. Talvez devido à referida acumulação de funções, Zak nunca chega a ser um “membro de pleno-direito” dos Oasis, apesar de ter sido pelo menos o baterista dos restantes álbuns da banda. Starkey estreia-se ao vivo com um concerto de “aquecimento” para o festival de Glastonbury, cujo cartaz os Oasis encabeçam pela segunda vez mas cuja performance acaba por deixar algo a desejar, tendo Noel posteriormente descrito a ocasião como o “momento George Best” da banda: como o génio norte-irlandês do futebol, teve tudo para dar certo mas o álcool meteu-se pelo meio.
Entretanto as sessões de estúdio com os Death In Vegas são atiradas para o lixo e novas sessões são iniciadas, primeiro nos estúdios de Noel e apenas com a própria banda, à semelhança de Heathen Chemistry, depois em Los Angeles e com um novo produtor, Dave Sardy, a quem Noel pela primeira vez entrega as rédeas quase por completo. O resultado sai em Maio de 2005 com o nome Don’t Believe The Truth e é recebido por fãs e críticos como o melhor álbum desde Morning Glory, o regresso à forma que já se duvidava que os Oasis conseguissem realmente consumar. Com mais temas repartidos pelos outros elementos que não Noel (que até afirma que os temas que mais soam a Oasis são os de Andy, como a explosiva abertura do álbum e tour subsequente “Turn Up The Sun”) e mais “comunitário” na medida em que ninguém à excepção de Zak se limitou a fazer a sua parte no seu instrumento, Don’t Believe The Truth traz dois singles que se tornam clássicos instantâneos e não voltam a sair das setlists da banda: “Lyla” e “The Importance of Being Idle”, este último descrito por Noel como a canção que se fartou de esperar que os La’s voltassem para escrever. O outro single, “Let There Be Love”, é um raro dueto quase de amor fraterno entre Liam e Noel, como apenas tinha acontecido em “Acquiesce”, lado-B de “Some Might Say” em 1995, tendo ficado em segundo lugar do top de singles, um lugar abaixo dos singles que lhe precederam.
Para a tour da praxe, os Oasis primeiro marcaram (e esgotaram) os grandes estádios e arenas, mas em seguida anunciaram uma pré-tour de pequenas salas pela Europa, regressando a recintos com capacidade para cerca de 1000 pessoas. A 1 de Junho de 2005 tocaram no Aqualung em Madrid e vai ser para sempre uma das melhores noites da minha vida. Por uma vez, a tour decorre sem grandes incidentes e acaba por se tornar a mais longa desde os tempos de Definitely Maybe, totalizando 113 datas até Março de 2006. Talvez numa vénia ao outro “emprego” do baterista, passam a acabar os concertos com uma cover de “My Generation”.
O resto de 2006 traz férias à sombra do ressurgimento da popularidade, e uma compilação de 18 singles, lados-B e temas de álbum, chamado Stop The Clocks, também o título de um dos temas “perdidos” que Noel escreveu, a banda alegadamente gravou três vezes e nunca chegou a editar. Apenas saiu em 2012 no álbum a solo de Noel.
2007 começa com um Brit Award de Outstanding Contribution to Music e uma performance de cinco temas antigos e recentes a encerrar a cerimónia, e daí a banda começa a trabalhar faseadamente no sétimo álbum entre Los Angeles e Abbey Road, novamente com Dave Sardy na produção. Pelo meio é lançado um documentário da tour de Don’t Believe The Truth, intitulado Lord Don’t Slow Me Down, que se faz acompanhar de um novo tema com o mesmo título (o primeiro lançamento exclusivamente digital da banda) e uma pequena tour acústica apenas com Noel, Gem e o percussionista Terry Kirkbride a apresentar versões mais despidas de alguns clássicos da banda.
As gravações do sétimo álbum prolongam-se até Março de 2008, com interrupções para Noel acompanhar o nascimento de um dos filhos e alegadamente três meses de espera para que Liam acabasse de gravar as vozes finais. Pelo meio, uma votação da revista Q e da cadeia de lojas de discos HMV para escolher os 50 álbuns britânicos mais importantes dos últimos 50 anos coloca os primeiros dois dos Oasis nos dois primeiros lugares, com Don’t Believe the Truth a ficar no 14º lugar e o “maldito” Be Here Now em 22º. Em Maio Zak Starkey abandona a banda e Chris Sharrock toma o seu lugar, não sendo a primeira nem a segunda vez que aconteceu Sharrock substituir Starkey ou vice-versa. Sharrock vem da banda de Robbie Williams (um ex-“amigo” tornado “inimigo” dos Gallagher) mas com passagens pelos World Party, Icicle Works, Lightning Seeds e os La’s tão adorados por Noel e Liam. Noel afirma na altura que Liam não gostou da ideia de contratarem o baterista de Robbie Williams, mas também por isso não resistiu à tentação de irritar Liam e Robbie apenas com uma chamada telefónica. Anunciou também Chris Sharrock como o “novo e último” baterista dos Oasis, antes que se tornassem nos Spinal Tap, se bem que Sharrock à semelhança de Zak nunca chegou a ser oficialmente membro da banda.
O sétimo álbum tem o título Dig Out Your Soul, é lançado em Outubro de 2008 mas não sem que a América do Norte voltasse a fazer das suas aos Oasis, neste caso o Canadá. Um mês antes, num concerto em Toronto, um invasor de palco empurra Noel para o chão, Noel cai em cima dos monitores e parte três costelas, obrigando ao cancelamento de alguns concertos promocionais do novo álbum. De qualquer modo, Dig Out Your Soul entra para o primeiro lugar do top de álbuns e as críticas realçam a continuação da boa forma reencontrada no álbum anterior, apesar de uma sonoridade mais pesada mas sem cair nos excessos de Be Here Now e uma reaproximação ao psicadelismo dos anos 60. Volta a haver um single da autoria de Liam, “I’m Outta Time”, ensanduichado entre dois de Noel, “The Shock Of The Lightning” e “Falling Down”. A banda prepara um ano de digressão mundial, para terminar em Setembro de 2009 e com paragens nos principais festivais e arenas, bem como 3 noites para 70.000 pessoas cada no Heaton Park em Manchester.
A digressão corre sem grandes incidentes até ao dia 28 de Agosto de 2009, quando a minutos de subirem ao palco no festival Rock En Seine em Paris, uma discussão no camarim entre Liam e Noel foi a última. Liam parte a guitarra de Noel, que cancela o concerto e abandona a banda com um comunicado no site oficial dos Oasis na própria noite, declarando alguma tristeza e grande alívio e que não conseguia trabalhar com Liam nem mais um dia, alegando também falta de solidariedade dos restantes colegas de banda.
Liam, Gem, Andy e Chris formaram os Beady Eye, enquanto Noel iniciou a carreira a solo que muitas vezes foi sugerida ao longo dos anos. O regresso dos Oasis continua a ser ansiado pelos fãs, sugerido pela imprensa e rejeitado liminarmente por Noel.