Chegou o dia fatal: the sun ain’t gonna shine anymore para Scott Walker. Aos 76 anos, a morte ceifou mais um dos grandes da música pop (num primeiro fôlego da sua carreira), mas também da música avant-guarde experimental dos seus últimos tempos. Depois de ter sentido o sabor do estrelato nos anos idos dos The Walker Brothers, Noel Scott Engel (é esse o seu nome de batismo) enveredou por uma promissora carreira em nome próprio. No entanto, cedo foi percebendo que o caminho artístico que desejava trilhar não lhe permitiria voltar aos tempos em que a fama e a glória o atingiram. Foi, aos poucos, desaparecendo do radar das estrelas da música, e hoje acabou por fundir-se inteiramente com elas.
Amante confesso do génio de Jacques Brel, Scott Walker soube construir uma carreira cada vez mais densa e misteriosa, tornando-se, mais tarde e de novo, uma figura de culto, embora representando o avesso do primeiro momento de esplendor artístico. Onde antes existiu brilho e pompa, passou a haver negrume, inquietação e mistério.
Scott Walker foi autor de discos eternos, de álbuns maiores do que a vida! Entre os melhores constam Scott 4, e esse bastava para que a história da música lhe conferisse a eternidade. Cada vez mais reticente, bissexto e fugidio, o músico norte americano soube construir um percurso que despertou a atenção de muitos e bons nomes da cena musical. Desde logo Julian Cope, ao ponto de ter feito Fire Escape in the Sky: The Godlike Genius of Scott Walker, compilação que chamou a atenção para o prodígio que Scott Walker sempre fora. Seguiram-se as vénias de muitos mais: Bowie, Thom Yorke, Jarvis Cocker, Neil Hannon, Damon Albarn, Bill Callahan, David Sylvian entre tantos outros.
É muito provável que hoje, mais à noitinha, Walker e Brel bebam um copo e afinem vozes entoando, por exemplo, “Ne Me Quitte Pas”, apenas pelo prazer das coisas boas.