Dez anos depois chega a saudade. Não que ela tenha ido embora, mas porque chega sempre que penso em Mew, e porque esta “crítica” vem com dez anos de atraso. Sei que é um álbum incrível, porque ainda me arrepio a ouvi-lo e porque tenho uma maturidade musical – que não tinha nos meus 12 anos – para o poder dizer. Podia não saber nada da vida, nem de música, mas já aí sentia o que os Mew quiseram, provavelmente, transmitir com este Frengers.
Friends and strangers. O disco dos amigos que são estranhos ao mesmo tempo. Isso não é algo feliz, e também não é felicidade que nos procuraram passar. Sente-se o frio dinamarquês a ocupar-nos os ouvidos e a mente, mas é dos melhores sentimentos que já experimentei a escutar um álbum. Tem de se ouvir do princípio ao fim e não há requisitos de estado de espírito, porque há algo inegável ali: a magia da voz de Jonas Bjerre.
A mítica “Comforting Sounds” entrou no nosso pequeno mundo português, por via de um anúncio da Optimus. Criou um certo “hype”, mas a maioria ignorou o potencial dos Mew, deixando passar um álbum de estimação impressionante. Mas a verdade é que a composição daquela última faixa do álbum – na sua versão completa – dá-lhes todo o crédito. Acordes brandos, que vão entrando em várias transições à medida que Bjerre nos pergunta se podemos partilhar a nossa solidão. A intensidade da música aproxima-se quando nos deixa a reflectir: “Back when we were kids, we would always know when to stop. And now all the good kids are messing up”. E depois – a surpresa. A força do instrumental numa evolução que escapa aos mais distraídos, mas que ali se torna inevitável. Também “She Spider” tem um jogo semelhante, mais abrupto, algo que contribui também para que seja das melhores canções do álbum. Em “Symmetry” conjugam uma voz desconhecida do que parece ser uma criança com os versos do vocalista, e o resultado é mais uma balada como não veremos no mundo comercial.
Aconselho Frengers no regresso a casa depois de um dia feliz. Aí terão a prova de que não têm de encontrar tristeza naquela nostalgia. No entanto, agradará a qualquer bom ouvido, em qualquer altura do dia e da vida.
a minha banda preferida!