Longe vão os tempos de sucesso dos The Boo Radleys e do disco Wake Up!, em particular. Desde os finais dos anos 90 do século passado até aos presentes dias, muita coisa se passou na vida de Martin Carr, embora poucos tenham sido os acontecimentos dignos de registo. Ressurgiu, depois de extinta a sua banda inicial, como Bravecaptain e continuou ligado ao mundo da música, embora esse mesmo mundo pouco ou nada lhe tivesse ligado. Mais do que uma simples brincadeira de palavras, a ideia da frase anterior mostra bem a realidade a que Martin Carr se habituou. Na verdade, e analisando friamente as coisas e as suas circunstâncias, ainda hoje assim é, embora o músico escocês nunca tenha atirado a toalha ao chão. Aliás, como prova bem evidente da sua energia e do seu empenho, pisou vários terrenos musicais em busca do sucesso anterior, mas foi-se envolvendo em experimentalismos eletrónicos de pouco significado, por vezes com um pé no jazz e o outro no hip-hop. Ou seja, e em poucas palavras, andou perdido…
A notícia é que regressa agora, mais centrado e bem mais acutilante, com este The Breaks. Lembro-me de ouvir com algum agrado (o certo é que uma vez mais o LP Wake Up! me vem à memória) as suas guitarras entusiasmantes e as suas composições descaradamente coladas ao universo da dupla Tilbrook / Difford, dos míticos Squeeze. E, na verdade, é um pouco disso que temos agora neste seu mais recente trabalho.
Salvo por uma editora alemã que tenta dar a mão a alguns talentosos nomes algo esquecidos da pop britânica (Tapete, editora independente de Hamburgo), Martin Carr mostra-se ainda bem capaz de fazer boas canções cheias de ritmo, de escrever melodias decentes e engraçadas, mas o rasgo de génio (se alguma vez ele o teve, verdadeiramente) não mora aqui. No entanto, o esforço é notório, e Martin Carr não fica mal na fotografia. O problema é que pouco ou nada deste The Breaks pode servir para acrescentar ao que o músico já tinha feito anteriormente. Isto, como é óbvio, é sobretudo válido para aqueles que conhecem bem o seu passado. Para os que só agora dão de caras com o autor de «Wake Up Boo!» ou «Charles Bukowski Is Dead», o interesse pode ser maior, e até gostaria muito que assim fosse; mais que não seja por acreditar piamente que Martin Carr é um músico sério, competente no toque pop da sua guitarra elétrica, sendo portador de uma voz doce e delicada. Mas o tempo passa, e muitas vezes passa também um certo e particular espírito de fazer canções que já teve o seu tempo. Não quero estar a ser injusto com Carr, nem com este seu The Breaks. Por isso algo me leva a pensar que vale a pena ouvir algumas das 10 canções deste álbum. «Mainstream», «Mountains» e «Sometimes It Pours» são bons temas para tocar na rádio. Mas, infelizmente, não tocam desse mesmo modo no meu coração. E isso, como sabemos, faz toda a diferença do mundo…