Com o hiato dos Los Hermanos, Marcelo Camelo solta-se e faz um disco com o som que lhe vai na alma. O resultado não poderia ser mais feliz. Sou é a cara de um Brasil que ainda não desistiu da sua tradição musical.
Não querendo comparar os Beatles aos Los Hermanos, faço este exercício de pensamento, dando o exemplo de pessoas que não percebem porque os Beatles acabaram e os que entendem haver um momento para tudo na vida e que nada é eterno e linear. Os Beatles acabaram porque cada um deles, excepto talvez o Ringo, estava em outra fase das suas vidas, quiçá incompatível com a vida de um grupo tão loucamente amado como os Beatles. Que seria de George Harrison se os Beatles continuassem? Teria mais duas ou três músicas por disco e findava-se por aí? Em quê poderia John Lennon expressar a sua nova visão sobre a vida? Eram pessoas diferentes, com ambições diferentes, tinha que ser auto-destrutivo. Chega a uma altura da vida que já não faz sentido. Quem perdeu com isto foi Paul McCartney que, sem concorrência interna, especialmente de Lennon, perdeu a bitola alta que mantinha no grupo de Liverpool.
A razão desta comparação serve para explicar que, tanto num grupo tão famoso e importante como os Beatles como num grupo como os Los Hermanos, o afastamento entre membros da banda, nem sempre apenas por lutas internas, pode acontecer e isso não é, por si só, negativo.
Depois de um primeiro disco mais ska e hardcore, a banda carioca viria a desenvolver o seu o próprio som ao longo dos restantes três álbuns, culminando num fantástico 4 que era um misto de indie rock com MPB, com letras de cariz profundo e intelectual. No entanto, quanto mais se cresce por dentro mais tendência temos a procurar cada vez mais e isso foi o que Marcelo Camelo fez. Enquanto Rodrigo Amarante manteve a mesma toada, embora com franca qualidade dos Los Hermanos, com Little Joy, Marcelo foi mais adiante e fez um álbum mais de coração, de instinto, de momento. Músicas doces como “Téo e a Gaivota”, “Passeando” ou “Doce Solidão” são exemplos do momento que Marcelo estaria a viver, aliado até à sua nova relação com a cantora paulista Mallu Magalhães onde fez dueto em “Janta”.
“Tudo Passa” é uma música fantástica que entrelaça vários géneros musicais, enquanto “Menina Bordada” e “Copacabana” trazem o melhor da música brasileira.
Marcelo Camelo é, sem dúvida, uma das grandes figuras da nova música brasileira, seja pelo que fez enquanto membro dos Los Hermanos, seja como artista a solo. Por vezes, é preciso soltarmos as amarras que temos para criar coisas mais íntimas.
Grande disco!
É pena os Los Hermanos serem demasiado associados ao Ana Júlia…
São 4 excelentes discos, que deram origem a duas vertentes mais calmas Little Joy e Marcelo Camelo.