Ao quarto disco, com o pouco sugestivo título 4, os Los Hermanos largam os sopros, o tom mais soalheiro e abraçam a melancolia naquele que é o seu trabalho mais conseguido.
Elevados aos píncaros no Brasil com o seu primeiro single “(Anna Júlia”) cedo a banda brasileira tentou livrar-se dessa imagem pop e adolescente. O seu primeiro disco, datado de 1999, era um projecto mais ska do que propriamente pop. Porém, trazia som, letras e instrumentos completamente diferentes do que seria normal para o género. Letras sobre amores sofridos, engrandecidas por sopros que lhes conferia um toque muito próprio.
Bloco do Eu Sozinho (2001) e Ventura (2003) começaram a mostrar a banda, originária do Rio de Janeiro, com contornos mais adultos, e com vontade de se afastar da vertente mais comercial. Influências de bandas que começavam a emergir em Inglaterra ou Estados Unidos misturadas com o jeito MPB, conferiam-lhes um estilo muito próprio. Essa evolução desaguou da melhor forma em 2005 com 4, o até agora disco final da banda de Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante.
4, último trabalho de estúdio do grupo carioca antes do famoso “recesso por tempo indeterminado”, foi apelidado, à altura, de depressivo e entediante. O que faltou perceber foi que a melancolia não é, de todo, deprimente, mas sim um estado de alma que é essencial ao ser humano para contrabalançar em relação a estados mais eufóricos. Sabe a fim de festa, mas de uma festa muito boa e da qual ansiamos que, um dia, voltemos a celebrar.
Vindo na sequência de Ventura, o ambiente de 4 é muito mais calmo que os anteriores, mais adulto, com letras mais reflexivas, em que o indie rock se funde com a bossa nova. Começava já a notar-se o início da cisão da banda com Marcelo Camelo mais acústico em “Fez-se Mar”, “Morena” e “Sapato Novo”, e Rodrigo Amarante mais eléctrico com “Primeiro Andar” ou “Condicional”. Os projectos seguintes de cada um vieram confirmar isso mesmo.
Embora o tom geral do disco seja mais soturno e melancólico, ainda houve tempo para alguns rasgos, como “Paquetá”, com o seu ritmo pulsante, a deliciosa “O Vento”, ambas escritas por Rodrigo Amarante, e a mais cáustica “Horizonte Distante”, da autoria de Marcelo Camelo.
A fechar o disco, Camelo dá-nos duas pérolas: “Pois É” e “É de Lágrima”. A primeira é uma melodia de perfeita conjunção entre letra e música. Uma das faixas mais bonitas de todo o repertório da banda carioca. A última é uma despedida lânguida, que nos deixa K.O. após doze excelentes canções.
Ao quarto disco, como dissemos, a banda despediu-se do seu público por tempo indeterminado. Saudades deixam muitas, mas o legado dos “irmãos barbudos” fala por si. Um grande álbum de umas das melhores bandas brasileiras de sempre!