A última data de “Conta-me uma Canção” em 2025 só podia ser em grande: Manel Cruz e Samuel Úria, dois dos melhores cantautores nacionais, juntaram-se em palco para uma noite que ficará nos nossos corações.
Como a transparência é um dos meus principais atributos, começo por dizer que assisti a este concerto na condição de fã do Samuel e do Manel, e só depois como colaboradora do Altamont. O que me fez passar por momentos em que estava ali apenas sorrindo e pensando em como era sortuda por estar frente àqueles dois, sem ter consciência de que teria de partilhar um texto sobre a passada noite de quarta-feira. Não obstante, aqui vamos nós.
Ter dois dos melhores cantautores portugueses deste século em conversa podia antever uma séria reflexão sobre o que é escrever e interpretar as suas próprias canções, mas o resultado não foi esse. A verdade é que a conversa teve alguns momentos mais sóbrios, como quando se falou da possibilidade de o artista se expor demasiado na escrita de canções ou do facto de ambos escreverem em português e das vantagens que isso acarreta (isto enquanto o rei S. Gigante assistia na terceira fila).
Mas, no geral, o diálogo entre Manel Cruz e Samuel Úria manteve um registo leve e divertido, havendo muitas alturas em que o público teve dificuldade em conter as gargalhadas. Por vezes, parecia que estávamos a assistir a uma sitcom daquelas “filmed in front of a live studio audience”: desde a troca de galhardetes sobre qual dos dois seria o mais afamado, os elogios de Samuel aos olhos de Manel — que, apesar dos louvores, mostrava dificuldade em perceber a verdadeira cor do olhar que o enfrentava —, a história dos sapatos ortopédicos de Manel Cruz e muitas outras conversas que culminaram com o pedido do público para que o Manel tirasse a camisa, acabando com ambos os artistas a mostrarem as barrigas. Apesar de Samuel e Manel acharem que foi um momento de afirmação da sua meia-idade, acredito que, para muitas das pessoas no público, apenas os ajudou a reafirmar o título de “namoradinhos de Portugal”. Momentos autênticos e hilariantes que fazem desta ideia de falar sobre canções um conceito completamente vencedor.
Falamos em canções, e, não se preocupem os leitores, que também as houve. E para quem achava que o grande hit em conjunto, “Lenço Enxuto”, ficaria para o encore, enganou-se — foi logo a primeira da noite, castigando quem entrou atrasado à sala do Maria Matos. A troca de canções é sempre um momento empolgante, e Manel Cruz cantou “Vem de Novo” de Samuel. E não só a interpretou, como a fez sua, armado de ukulele e harmónica. Samuel Úria, arriscando ser linchado à saída, fez o seu próprio brincando aos clássicos, interpretando “Ouvi Dizer”, uma das mais importantes canções dos Ornatos Violeta e da música portuguesa. Posso dizer que já saí tarde do Maria Matos e não assisti a linchamentos — parece que correu bem a Samuel Úria.
No final, o que se viu foi um concerto cheio de risos, momentos sinceros e, claro, música de altíssima qualidade. Samuel Úria e Manel Cruz não só partilharam as suas canções, mas também a sua amizade — aquele abraço final entre os dois disse tudo. Afortunados os que assistiram a tudo.
Em jeito de despedida, quero deixar, em meu nome e em nome do Altamont, os mais sinceros agradecimentos ao Paulo Salgado e à Ticha, da Vachier & Associados, e à Maria Escaja, do Colectivo, por, mais uma vez, concederem a oportunidade de estarmos presentes no melhor “festival de Inverno”, o “Conta-me uma Canção”.
Alinhamento
- Lenço Enxuto
- Mal Nenhum
- Fica Aquém
- Em Caso De Fogo
- Lágrimas São Para Correr
- Vem De Novo
- Ouvi Dizer
- Falso Graal
- Um Adeus Português
- Foi No Teu Amor
- Aconchego
Encore
- Deixa Morrer




















