Ora aqui está uma das grandes incógnitas musicais. Estaria Lou Reed a gozar com a nossa cara ou estava a querer romper estilos, e ouvidos, com o seu Metal Machine Music?
Um disco que, só pela sua história, vale a pena falar dele, é o quinto álbum de estúdio de Lou Reed. Reza a lenda que o disco foi retirado do mercado três semanas depois de ser lançado e ainda hoje consegue ser motivo de acesas discussões entre fãs e críticos musicais. Eu, como tive que voltar a ouvir este disco, digo-vos já. É uma valente porcaria inaudível, mas oiçam-no vocês, se tiverem comprimidos para dores de cabeça à mão.
Metal Machine Music consiste em quatro faixas, de cerca de 16 minutos cada, onde vários níveis de feedback fazem o que podem para se assemelharem a uma estrutura musical coerente, mas percebe-se que pelo menos foi feito com intenção. Há nestas camadas de ruído várias velocidades que foram manipuladas, algumas invertidas, na criação do álbum. Lou Reed sempre insistiu que era um trabalho experimental sério, por isso deixemos de lado a abordagem de repulsa inicial e tentemos encontrar sentido nisto…
Ao fim de uns bons minutos de escuta, sensivelmente a meio da segunda faixa, já me passou pela cabeça desligar isto e ir ouvir música, mas ao mesmo tempo há algum método nesta loucura. Para todos os efeitos é uma instalação artística, no sentido em que nos faz questionar se a repetição de feedback é musical ou agradável, já que, como humanos, temos tendência a procurar padrões na natureza e em tudo. E aqui a resposta vai variando. Há momentos em que parece surgir algo de coerente mas de repente desaparece, e assim sucessivamente.
Mas é um disco que está na lista de piores álbuns de sempre e só por isso merece uma escuta. O problema é que não é com pequenas partes saltadas do disco que chegamos a alguma conclusão. Infelizmente também não a temos ouvindo o álbum todo. Duvido até que alguém, exceto quem o gravou (e remasterizou em 2011), tenha ouvido uma hora inteira de Metal Machine Music.
Há também uma história sobre este disco ser uma vingança sobre a sua editora, a RCA, outros acham que é uma grande piada e outros elevam Reed a pioneiro do noise, industrial e etc.
Um pouco antes de terminar a segunda “canção” (e uso o termo aqui muito livremente) tive que parar o disco. Subitamente sobressaiu o ruído do ar acondicionado, como se acabasse de sair de uma experiência sensorial de privação de sentidos. E às tantas é isso que queria Lou Reed. Ou isso ou a grande dose de drogas que o influenciava. Afinal de contas o subtitulo deste disco é “The Amine β Ring”, uma alusão bastante óbvia às anfetaminas, que também aparecem num desenho da sua estrutura molecular na parte de trás do disco.
Depois de um bocado terminei de ouvir Metal Machine Music. Pela segunda vez e espero que última. Agora preciso de uma desintoxicação sonora. O meu veredito é que Lou Reed criou este disco bastante fora de si e levou a piada até ao fim, chegando a declarar que era um dos seus melhores trabalhos. Pelo menos cimenta o seu estatuto de culto, e isso é arte.
Neste momento debato-me para eliminar qualquer vestígio ou memória da existência deste artigo. Completo lixo, infantil, de tamanha imbecilidade. Só pode ter sido escrito por alguém sofra de auto-adoração.