
The Loafing Trees são um produto da globalização. Banda formada à volta do compositor, vocalista e guitarrista irlandês Bartholomew Ryan, têm existido entre Lisboa e Berlim. Nas suas fileiras militam amigavelmente a italiana Giulia Gallina, a alemã Judith Retzlik, o americano Jaime McGill, e os portugueses Otto Pereira, João Abreu e João Tordo (o escritor e filho do grande Fernando Tordo), que toca contrabaixo.
Esta não é apenas uma breve nota biográfica. Esta vida itinerante teria de marcar, e marca, a sonoridade da banda que se prepara para lançar aquele que já é o quinto disco de originais. O que temos perante nós nesta saborosa rodela de 12 fatias é uma folk de câmara, uma ‘dream-folk’, se quiserem, sem qualquer da contaminação psicadélica tão em voga hoje em dia. The Baron in The Trees, este novo disco, traz-nos a lembrança de quão rica pode ser a música, mesmo que assente numa estrutura clássica de canções. A utilização de vários instrumentos, nomeadamente o violino e o acordeão, com arranjos simples e de bom gosto, transportam-nos para um mundo de sonho, com músicas que se desenrolam lentamente, acompanhando histórias de amores perdidos e encontrados, cidades abandonadas, florestas assustadoras mas também redentoras.
Um disco de 2016 mas que, orgulhosamente, poderia ser de 1968 ou de 1983, sem correr atrás de modas ou tendências.
The Baron in the Trees é um disco para consumir por inteiro, deixando chegar ao fim e recomeçando de imediato. Ainda assim, cometeremos o pecado de distinguir alguns dos temas que mais nos tocaram. “Gypsy Waltz”, cujo ritmo nos evoca histórias de corsários e sereias, com a voz de Gallina a lembrar o tom da saudosa Beth Orton; “Crossing Roads”, que arranca com um fraseado vocal a puxar-nos ao melhor estilo de Lloyd Cole, uma bonita balada a duas vozes; “Nightsongs” leva-nos a um casal, numa noite de uma qualquer cidade, a esperança e o medo que só o amor pode trazer; “Gates of Gloom”, o tema mais acelerado do disco (calma, que por aqui ninguém corre) que nos dá uma soltura e uma sensualidade ausente do resto do álbum; a arrepiante “Caitilin Maude”, despida e intensa; e o fecho com “Javali”, que nos abraça na atmosfera de sonho que domina este disco. Mas enfim, tal como dissemos, não vale a pena andar aqui à procura de singles, tal o equilíbrio na qualidade média dos temas.
The Baron in the Trees é lançado com concerto, a 6 de Maio, no lisboeta Music Box. Oportunidade para entrar neste mundo mágico. Um disco muito bonito, sem vergonha de ser bonito. Um álbum que apetece ouvir no Inverno, à lareira, mas que promete viver e brilhar nesta Primavera que teima em não aparecer.
Os The Loafing Heroes, pela sua composição multinacional, são uma verdadeira ONU. E, tal como esta, tem como missão levar a paz onde quer que chegue. É deixá-los entrar.