Disco para quem gosta de histórias sonoras, boa produção e salgalhada de estilos de canções diferentes.
Era uma vez um livro de Sol Yorick que se transformou num filme, nos idos de 1979. The Warriors é hoje um filme de culto com variadas referências noutras séries e meios audiovisuais (da WWE aos Simpsons e ao What We Do In The Shadows). Mas é pelo filme que começa a história deste disco.
Produzido por Nas e Mike Elizondo, é uma enorme mistura de estilos. Do hip-hop ao metal, com muitos toques de teatro musical, R&B, pop e até reaggae e salsa. O álbum conta a história de um gangue, os Warriors, nesta versão musical um grupo de mulheres que tentam escapar de Manhattan depois de um assassinato de um líder de outro gangue.
Em termos musicais, este concept album consegue a proeza de juntar muitas sonoridades diferentes de uma forma que se sente fluída, com Eisa Davis a descrever que a ideia era a de mostrar as várias cidades dentro de NY, com toda a bagagem cultural que isso implica. Apesar de várias vezes serem diametralmente opostas, as faixas complementam-se através da história.
A história segue as Warriors, um gangue de Coney Island que vai até ao Bronx para uma reunião de gangues. Cada um dos cinco tradicionais bairros de NY é representado por um conhecido rapper como Nas, Busta Rhymes, Ghostface Killah, RZA e até Lauryn Hill. Isto porque, na vida real, os gangues nova-iorquinos dos anos 70 fizeram parte da génese do hip-hop e toda a cultura daí relacionada mas também, como disse Lin-Manuel Miranda, é mais fácil meter estes artistas num disco que num palco da Broadway, oito vezes por dia.
Voltando à história, a coisa corre mal e as nossas protagonistas, Cochise, Cowgirl, Fox, Cleon, Ajax, Rembrant e Swan dão por si a percorrer uma cidade pouco amigável enquanto fogem de outros gangues, com nomes como Mark Anthony, Kim Dracula e até participações de James Remar e David Patrick Kelly, atores do filme original.
A parte mais complicada deste disco será talvez a variedade de temas que encerra numa história de uma hora e vinte minutos. Há referências óbvias a violência mas também a lealdade, a misoginia, a resiliência e muitos outros detalhes culturais que necessitam de uma escuta detalhada. Contudo, apesar de uma ou outra preferências pessoais por algum tipo de sonoridade, as faixas são fortes e integram-se bem no desenrolar da história.
Sem estar a descrever toda a noite das Warriors, que afinal é o mais importante do disco, animo a que ouçam com atenção às letras e se deixem levar pela imaginação. Não será de todo inesperado que mais cedo do que tarde este trabalho veja a sua adaptação aos palcos ou até a uma nova versão do filme. Afinal de contas, o Hamilton também começou com uma “mixtape”.
Lin-Manuel Miranda é um brilhante letrista, mas por causa da mistura sonora e estilística, não é obviamente para todos, já que vai da salsa ao metal em três canções, por exemplo. Com isto quero dizer que se para vocês Lin-Manuel Miranda não é mais que o autor das canções de Encanto ou de Mufasa, se calhar isto não é a vossa praia.
Agora, se gostam de histórias sonoras, boa produção e a salgalhada de estilos de canções diferentes não vos afastar, este é sem dúvida um disco incrível e vão dar por vocês a ouvir repetidamente, e a descobrir detalhes novos a cada escuta.