Os Lightning Bolt apresentaram finalmente Sonic Citadel na capital, num concerto que só pecou por não ter sido mais longo.
O passar dos anos mal parece ter passado pelos Lightning Bolt, que continuam tão elétricos e animalescos hoje como há vinte anos atrás. O seu último disco, Sonic Citadel, por ter sido lançado pouco tempo antes da pandemia e devido à sua natureza espontânea, ainda não teve o tempo de estrada que permitiu as suas músicas maturarem à medida que vão sendo tocadas noite após noite.
Nada disto importa, no entanto, quando recordamos o concerto de ontem, organizado pela Galeria Zé dos Bois no Lisboa ao Vivo. O duo nova-iorquino, constituído pelos Brians, Gibson no baixo e Chippendale na bateria e vozes, faz compensar o número reduzido de membros com um número elevadíssimo de decibéis. Munidos apenas de um baixo repleto de efeitos e uma bateria, o grupo ameaçava destruir as paredes da sala lisboeta com a fúria da sua música. “The Metal East”, é claro, abriu a noite com um baixo-metralhadora a dar o aviso para que aqueles que quisessem fazer crowd surf se preparassem e para o resto se meter nas trincheiras. Houve metal também em “Over the River and Through the Woods”, cuja progressão em pára-arranca, e as modulações de tempo justificam a descrição dos Lightning Bolt como math rock feito por gajos que chumbaram a matemática.
O alinhamento concentrou-se maioritariamente em Sonic Citadel, um disco mais direto e soalheiro que o resto da discografia dos Lightning Bolt. Isso resultou em vários momentos de verdadeira sublimação, em que, do baixo de Brian Gibson, saiam arpejos celestiais que contrastavam com a tempestade que rebentava a escassos metros de distância. “Blow to the Head” e “USA is a Psycho” trocam os exercícios em extensão que caracterizam muita da música mais antiga do grupo, por uma explosão mais concentrada de energia sobre a qual a voz distorcida de Brian Chippendale pairava como uma sirene do inferno. Finalmente, e como não podia deixar de ser, o grupo tocou “Dead Cowboy”,o longo hino anti-George W. Bush que, desde que saiu no longínquo ano de 2005, se tornou um dos pontos altos dos concertos do duo.
É difícil descrever um concerto de Lightning Bolt sem entrar em redundâncias. Uma banda constituída por tão poucos elementos dificilmente poderia fazer música mais diversa. Resta dizer que, por mais bem gravados que estejam os discos (e a maior parte estão), ver os Lightning Bolt ao vivo é absolutamente necessário para compreender o verdadeiro espírito da banda. É uma experiência visceral, ritualista e demoníaca e da qual não saímos iguais ao que éramos quando nela entrámos.
Fotografias gentilmente cedidas por Vera Marmelo