Mais do que o projecto de Zé Pedro fora dos Xutos & Pontapés, os Ladrões do Tempo são sobretudo uma espécie de supergrupo do rock português. Senão vejamos: o eterno guitarra-ritmo da maior instituição do rock português; Tó Trips, dos Dead Combo; Samuel Palitos, ex-Censurados e A Naifa; Paulo Franco, dos Dapunksportif; e Dony Bettencourt, da banda de tributo aos Doors Dead Cats Dead Rats, no baixo. Ou seja, tudo gente do rock, tudo gente respeitada e respeitável, e tudo gente com muitos quilómetros de estrada e palco nas pernas.
A verdade é que isto acaba por ser um mero chamariz interessante para esta banda. Porque, ao ouvir 1º Assalto, não estamos perante um supergrupo. Isto porque não há por aqui egos gigantescos a tentar fazer-se ouvir por cima uns dos outros, nem sequer é possível ou relevante estarmos à procura do que aqui é Zé Pedro ou Tó Trips. É uma banda, efectivamente, uma banda nova, felizmente com uma série de maduros que sabem o que estão a fazer.
Ao longo de nove temas directos ao assunto, os Ladrões do Tempo trazem-nos um rock melodioso escorreito, negro e competente. Se há aqui ecos do passado eles não vêm das bandas de origem dos seus membros, mas de um certo rock grunge a tresandar (no bom sentido) a anos 90, cantado em português. São nove músicas a ritmo elevado, que nos dão vontade de conduzir para longe e a alta velocidade.
O único senão será, talvez, a produção algo limpinha, com os elementos todos bem definidos e engavetados no seu sítio, algo que ao vivo é compensado. Aliás, os relatos apontam para uma nova vida, ainda mais feliz, dos Ladrões do Tempo, ao vivo, e isso pressente-se ao ouvir o disco. É rock a pedir palco, a pedir mais sã loucura do que se escuta na rodela. E é também ao vivo que o vocalista Paulo Franco se pode soltar de alguns tiques de interpretação que se notam no disco, dando gás à sua qualidade vocal mas mais imerso no resto da banda e não tanto à frente, em termos de mistura sonora, como 1º Assalto revela.
É um disco bastante coeso e equilibrado ao longo dos temas, com uma voz e uma coerência encontrada facilmente por gente que quis, de facto, fazer algo que fosse mais do que a soma das partes. Destaco “Ladrões do Tempo”, que abre a contenda em forma de apresentação e manifesto; “Rua”, uma malha anos 90 fortíssima; “Quase Nada”, a fazer lembrar a guitarra dos Jane’s Addiction; e “Em Casa”, única música na qual encontramos distantes ecos dos Xutos na guitarra de Zé Pedro.
Nada de novo, talvez. Mas um grunge que a espaços lembra momentos instrumentais dos saudosos Ornatos Violeta com mais octanas, um rock tuga bem esgalhado, bem forte e que se ouve muito bem.
Valeu a pena roubarem tempo aos seus projectos e dar-nos este 1º Assalto, de malta que soa como se estivesse a divertir-se à grande, levando-nos consigo nesta viagem.