Não é fácil falar sobre o que se gosta. Do que se gosta muito, é ainda mais difícil. Também não é simples gerir expectativas. É como no amor. Um dos corações de uma das nossas bandas favoritas emancipa-se e cria projeto autónomo. Tem tudo para ser bom, tem tudo para dar medo. Felizmente, é muito bom.
Se em vez de estrelas, os álbuns fossem avaliados em ‘x’, In Colour de Jamie xx tinha quatro em cinco. Isto, portanto: xxxx. Porquê? Não (só) porque há em mim uma grande propensão para gostar do que ele faz mas porque soube provar e dar-me razões para voltar a gostar. É como no amor. Nunca está conquistado, anda-se sempre a reconquistar. Jamie xx não cortou o cordão umbilical à nave-mãe, os The xx. Também não tinha que o fazer. Antes escolheu levar o melhor de si e do que, diga-se, dá aquela banda e reinventou-se. Se tivermos de fazer um risco no chão e separá-los, a grande diferença é a alegria. Deixa para trás a melancolia (que sabe tão bem) no som dos The xx e quando se destapa o véu do LP de estreia, o que se encontra é cor, energia.
Ao ouvir Jamie xx, não ouvimos só o que toca e o que mistura. Ouvimos o que ele já ouviu. Ouvimos o que Jamie xx ouvia quando era só Jamie Smith. Um dos principais traços da sua música é a memória, o que o influencia. Está presente sem ser óbvio, é gritante sem ser ensurdecedor. Talvez o exemplo mais óbvio seja a faixa “I Know There’s Gonna Be (Good Times)” que parte de um clássico de 1979 dos The Persuasions. Isto, contudo, não é uma novidade. Em 2011, num conjunto de remixes de Gil Scott-Heron, já tinha dado para perceber que este homem do futuro tem dentro dele muito passado.
O lado instrumental, com forte recurso à eletrónica e aos samples, é a cara mais visível de Jamie xx. É, no geral, elogiado pela crítica e um dos porta-estandarte da cultura pop underground londrina. O jornal The Guardian descreveu o álbum de estreia como uma espécie de rave por onde os sons deambulam entre diferentes corredores, e onde até o que as pessoas dizem na fila para a casa de banho é parte integrante da paisagem sonora. Não é apenas isto.
Há o lado familiar, acolhedor, quase infantil, cujo expoente máximo é o single “Loud Places” feito em colaboração com Romy Madley Croft, voz feminina dos The xx. E por infantil, leia-se naïf e não infantilizado. Jamie e Romy conhecem-se há muito, cresceram juntos a andar de skate. No tema “Loud Places”, o videoclip não podia fugir a isso e eis que aparecem os dois, a andar de skate à noite, nas ruas de Londres.
Das dez faixas que compõem In Colour, apenas uma podia ter sido tirada de um álbum dos The xx. “Stranger in the Room” a que, o também colega de banda, Oliver Sim empresta a voz é uma balada minimal, quase que a servir de apetite ao terceiro álbum da banda britânica que já não deve tardar. É um belo ato depressivo-eletrónico para gáudio de quem gosta, como eu, de The xx. Não desilude. É como o amor.