Em Youth & Young Manhood, os miúdos evangélicos Followill tornam-se homens, abraçando o som lascivo e com cheiro a gasolina do velho rock n’ roll. Nasciam assim os Kings of Leon.
Após a porta deixada aberta pelo lançamento de Is This It, muitas bandas começaram a ter visibilidade pelo seu som retro. Os Kings of Leon foram uma delas. Apelidados pela crítica norte americana como os Southern Strokes, a banda, composta pelos três irmãos Followill (Caleb, Nathan e Jared) e pelo primo Matthew, teve, na sua origem, uma educação diferente dos demais conjuntos do rock. Os três irmãos passaram a sua infância a viajar com o pai, pastor evangélico da igreja pentacostal, pela América profunda, fixando-se em Nashville após o divórcio do pai e consequente abandono da igreja. E é em Nashville que os irmãos, acompanhados pelo primo, abandonam o passado e abraçam o rock e o seu modo de vida. Longos cabelos, barbas e bigodes a relembrar os anos setenta, inspirados no imaginário de bandas como os Lynyrd Skynyrd, Allman Brothers ou Creedence Clearwater Revival.
Youth & Young Manhood é, claramente, o disco mais ingénuo mas, ao mesmo tempo, o mais puro dos Kings of Leon. Ao longo de 47 minutos, divididos por 13 músicas, somos transportados para os anos setenta, com riffs deliciosos, sobressaindo a voz do vocalista/guitarrista Caleb, poderosa, com os seus maneirismos típicos do sul dos Estados Unidos.
Logo a abrir, e se dúvidas houvesse, “Red Morning Light” mostra exactamente o que o disco tem para nos oferecer. O riff de Matthew é simples mas tremendamente eficaz, dando à canção pujança, acompanhada de perto pelos gritos loucos de Caleb. À primeira já estávamos vencidos mas haveria mais.
Seguem-se “Happy Alone”, “Wasted Time”, mantendo sempre o ritmo bem alto, enquanto “Joe’s Head” remete as letras para a clássica Hey Joe e as suas histórias de crimes passionais. A partir da quinta música, “Trani”, o disco dá uma guinada. Caleb surge como se tivesse ressacado e desgastado, contando histórias triviais de “old towns” americanas para, logo de seguida, vir uma cowbell anunciar sonhos perdidos de chegar à Califórnia. Uma das melhores canções do disco.
Em “Spiral Staircase”, Caleb dá uma de Bon Scott e parte tudo à sua volta. “Molly’s Chambers”, a canção seguinte, não deixa ninguém tomar o fôlego. Com a sua introdução básica mas máscula, a canção deambula à volta da voz de Caleb, interrompida por um solo clássico do rock. A canção que marca de forma indelével os Kings of Leon.
Youth & Young Manhood, com o seu som impregnado pelo imaginário sulista dos Estados Unidos, não inventou a roda, nem trouxe nenhuma inovação sonora, no entanto, no início do século XXI, órfão de malhas rock, o seu som foi extremamente bem-vindo e calorosamente recebido.