Os Junkbreed, os Barba de Sapo e os Geração à Rasca afundaram o Titanic com o seu festim de punk rock.
O punk como um fenómeno de um tempo, estremecendo os pilares do mainstream britânico, com importantes réplicas pelo mundo fora, foi sol de pouca dura, esmorecendo depois de ’76/’77. Mas na verdade, como cantavam os Exploited em ’81, o punk nunca morreu. Simplesmente, afastou-se dos holofotes, prosseguindo o seu caminho por trilhos subterrâneos. Nas últimas décadas, o punk reinventou-se mil vezes, enxertando-se com mil estilos, ramificando-se em mil subgéneros. Na sexta-feira passada, no Titanic Sur Mer, numa colaboração com a Infected Records, o punk rock português veio dizer-nos justamente isso, que está vivo e que é diverso, mostrando-nos algumas dessas sensibilidades.
Foram os Geração à Rasca que encetaram a noite com o seu punk pop à Tara Perdida (com alguns salpicos de Xutos); no fundo, o velhinho rock’n’roll reduzido à sua mais pura essência: despojado, enérgico e despretensioso, sem tretas pseudo-artísticas a sujar o lençol. Uma t-shirt dos Misfits e gasolina nos amplificadores bastou para incendiar o Titanic!
Seguiram-se os sacavenenses Barba de Sapo, mais velhos, nestas andanças desde os anos 90, e com um punk mais rápido e agressivo, inspirado no hardcore de meados dos anos 80 (como o dos Ratos do Porão). Como manda a praxe, malharam nos bófias e nos carecas, apelaram à ocupação de casas, e endereçaram piropos ao “filho da puta do Ventura”. Além dos temas originais, revisitaram clássicos de algumas bandas de culto, como os brasileiros Cólera, e os portugueses Crise Total e Censurados, com dedicatória ao saudoso Ribas e tudo. Em cada três palavras, diziam quatro asneiras, e ainda bem, que o punk quer-se assim, desobediente e mal-criado.
Os Junkbreed fecharam a noite com uma variante diferente do punk, influenciado pelo pós-hardcore da viragem do milénio (Every Time I Die, Cancer Bats, por aí…). Apesar de ser uma banda recente, formada na pandemia, é malta da velha guarda – a profusa pilosidade facial dos cinco elementos não engana -, mais ou menos da mesma geração dos Barba de Sapo, feita gente nos anos 90, mas vinda do thrash metal e afins (Seven Stitches, Primal Attack, Switchtense). E que saborosa pancadaria eles nos deram, punks na sujidade e imediatismo, metal no peso dos riffs e da bateria, quase southern rock no balanço gingão.
Três bandas, três sensibilidades muito diferentes mas a mesma paixão pelo punk rock. Obrigado por tudo, Infected Records Sur Mer!
Fotografias: Rui Gato