No dia 29 de Maio de 1997, Jeff esperava os restantes elementos da sua banda para gravarem um novo trabalho. A certa altura, decidiu tomar banho no rio Wolf, em Memphis, enquanto cantarolava «Whole Lotta Love», dos Led Zeppelin. Jeff não voltaria à tona e assim morreu um dos mais promissores músicos do seu tempo. Por esta altura, Jeff Buckley havia apenas deixado dois registos gravados: um EP, Live at Sin-é (1993), e um único álbum de estúdio, Grace, editado em Agosto de 1994. Buckley nunca chegou a gravar o álbum seguinte Sketches for My Sweetheart the Drunk.
Jeff era filho de músicos. A mãe era pianista e violoncelista, o que lhe permitiu crescer envolto num ambiente musical, e o pai, Tim Buckley, era um ícone da folk norte-americana; juntos seriam uma influência essencial. O padrasto deu-lhe a conhecer outros estilos musicais, como o hard rock e o rock progressivo, sendo os Led Zeppelin os mais relevantes. Grace resume, de certa forma, todas estas influências: um pouco de rock, de blues e jazz e uma candura deliciosa na voz. Ainda que seja um grande disco, Grace revela certas inconsistências – alguma da crítica especializada explica por que o disco não entusiasmou os ouvintes da época: por ser um tanto ou quanto repetitivo no tom e por possuir demasiadas versões para um primeiro álbum original. O tema mais conhecido do álbum, «Hallelujah», pertence a Leonard Cohen. Este argumento, ainda que válido, não empobrece a prestação de Buckley, pois este apropria-se da música dos outros e torna-a sua. Embora seja grande fã de Cohen, admito que a versão de «Hallelujah» de Buckley (a partir duma outra versão da mesma música feita por John Cale para o álbum de tributo a Leonard Cohen) supera a original, tornando-a numa das músicas mais belas jamais concebidas, e isso é um feito singular. As outras versões funcionam igualmente: «Lilac Wine», seguindo a interpretação de Nina Simone, que sugere a singeleza vocal de Chet Baker, e a comovente versão do compositor inglês Benjamin Britten, «Corpus Christi Carol». O que mais impressiona na curta carreira de Buckley é a sua voz e versatilidade performativa a par das letras de enlevo poético. Mesmo que o resultado final não seja perfeito, o disco tem momentos de pura beleza, e a primeira parte do álbum é a mais interessante. Os temas «Mojo Pin»,«Grace», «Last Goodbye», «So Real» são obrigatórios, e, claro, “Hallelujah” idem, ninguém deve morrer sem ouvir esta versão.
Grace seria apenas o primeiro passo de uma carreira promissora, mas terá sempre um lugar muito especial no coração de qualquer fã de música alternativa.