A lenda de Roy Orbison, fugaz sensação da década de sessenta, é, para mim, das mais melancólicas da história do rock ‘n’ roll. Sempre de óculos escuros encaixados firmemente no nariz, ocultando uma timidez que muitos confundiram com cegueira, escondia (ou mostrava, dependendo da perspetiva) atrás da sua voz colossal, carregada de significado, uma história de vida verdadeiramente dramática. “In Dreams”, uma balada operática de amores perdidos, reflete o fado de um homem cujo coração partido se transmuta em desespero. Orbison rejeita a lenga-lenga pop do verso – refrão – verso – refrão; ao invés disso, a sua voz vai-se enchendo sem regras, até se rasgar numa romântica tempestade orquestral. É um adormecer em lágrimas, o ser levado para um plano onde a realidade pouco importa, mesmo que durante umas horas.