“Immaterial”, retirado do esplêndido álbum de estreia da produtora, cantora e DJ escocesa Sophie, Oil of Every Pearl’s Un-Insides, é um tema que mal cabe em si mesmo, rebentando pelas costuras dos seus curtos quatro minutos de duração com a sua explosividade radiante. É, em todos os sentidos da palavra, um hino, daqueles cujo refrão exige ser repetido até à exaustão muito para além da música terminar, seja trauteado no duche ou berrado na discoteca.
Sophie parece ter ido beber de outra lenda viva do universe LGBT quando pousou a caneta no papel – mais concretamente de Madonna, que lança o icónico single “Material Girl” em 1984. No entanto, na voz de Sophie, ora delicada ora alucinada, o conceito de “material” aplicado a raparigas (e rapazes) ganha uma força bruta que faz o “hino” de Madonna parecer uma cantiga esquecível perdida em anos passados. Aqui, transforma a ansiedade de género e da sua mutabilidade numa explosiva celebração de balões e purpurina e não pede, mas sim ordena a aceitação de uma premissa que a muitos irrita e a ainda mais enfurece. E é irresistível: a dançar e a cantar hinos, todos nos entendemos.