No meio dos grandes nomes da história do rock progressivo a lista vai sempre bater aos 5 grandes do género: Yes, Pink Floyd, Genesis, King Crimson e Emerson, Lake & Palmer.
Infelizmente, hoje em dia poucas pessoas acima da ternura dos 50 se lembram do grupo formado pelos irmãos Shulman e que entre 1970 e 1980 gravou mais de 12 discos, alguns dos quais autênticas obras-primas como: Three Friends ou Octopus.
Azar ou falta de astúcia comercial foi certamente o que falhou sempre aos Giant Giant. Nomeadamente um single de sucesso capaz de capultar e capitalizar os seus talentos para outra liga. Os Yes conseguiram-no com «Roundabout», os Pink Floyd com «Money», os Genesis com «I Know What I Like» e os ELP com a maioria das baladas escritas por Greg Lake.
Aos Gentle Giant falhou essa parte. Mas uma coisa é certa, nunca se poderá acusá-los de falta de originalidade ou ambição para desenvolver verdadeiras pontes musicais entre os ambientes clássicos e o mundo rock. Aliás o recurso frequente a instrumentos de cordas como o violino, ou o violoncelo nos seus arranjos documentavam isso mesmo.
Das cinzas dos psicadélicos Simon Dupree and the Big Sound, nasceu em 1970 o som dos Gentle Giant, uma miscelânea de influências e amálgama de sons que também incluíam soul, blues, eletrónica primitiva e o minimalismo avant-garde de Stockhausen.
Os primeiros dois discos Gentle Giant ou Acquiring the Taste gravados entre 1970, 1971 e produzidos pelo futuro colaborador de Bowie (Tony Visconti) não tiveram qualquer tipo de impacto nas tabelas de vendas, contudo não podemos deixar de assinalar duas faixas fundamentais deste período: «Funny Ways» e «Pantagruel´s Nativity». Este último mais próximo dos caminhos esquizofrénicos dos bem mais influentes Van Der Graff Generator. Quanto a «Funny Ways» é das melhores canções escritas para harmonias vocais e que nunca foi um sucesso.
Chegamos a 1972 e assistimos às primeiras mudanças de formação: sai Martin Smith e entra Malcolm Mortimore para o lugar de baterista. É com ele que gravam o seminal Three Friends, onde pontificam também os talentos de Gary Green (guitarra) e Greg Kinnear (teclados).
Pela primeira vez os Gentle Giant levantam voo com o seu primeiro disco conceptual. A história de três amigos desde a infância à velhice. Há quem diga que se trata de uma obra quase autobiográfica da saga dos irmãos Shulman (Ray, Derek e Phil). Nesta obra estão quase todos os clássicos da banda desde a surrealista «Peel the Paint», passando pela romântica «Schooldays», à homónima «Three Friends» que contribuíram para que o grupo entrasse pela primeira vez nos 200 mais vendidos da Billboard Norte Americana.
Este reconhecimento nas terras do «Tio Sam» fez com que o grupo atuasse sempre mais vezes lá que no Reino Unidos, o que alienou sempre a sua precária base de fãs britânica quase sempre até ao final da carreira da banda. No entanto 1972 viu também ser publicado mais um disco dos Gentle Giant: Octopus. A cereja no topo do bolo que confirmou que o sucesso do disco anterior não era coisa efémera.
Com canções como «Boys in the Band», «Cry for Everyone» e «Think of Me With Kindness» representam o apogeu de uma banda no auge das suas capacidades.
Pena que esse apogeu se tenha tornado numa lenta clivagem em direção ao fim. Pese embora terem publicado mais oito discos, o grupo musicalmente nunca mais se encontrou. In a Glass House (1973), The Power and the Glory (1974) e Free Hand não são brilhantes mas contêm temas muito fortes. Porém a maré estava a muda e após alguns anos de agonia a banda separou-se em 1980. Civilian (com supostas influências New Wave) foi o seu último disco de estúdio, naõ deixando grandes saudades ou referências.
Curiosamente, os Gentle Giant são das poucas bandas que sempre resistiram à ideia de um regresso à cena musical. Alguns dos seus membros juntaram-se para formar a banda Three Friends, que ainda funciona algures como banda de tributo a eles próprios. Mas para os irmãos Shulman a ambição desmedida nunca foi a carta a jogar.
Talvez sejam dos poucos cujos valores da integridade e honestidade sobre as suas capacidades em atuar ainda sirvam para alguma coisa. Fiquemos então com imagem de seis jovens que nos idos de 70 que publicaram alguns dos melhores trabalhos de rock progressivo. Poderiam ter sido uns verdadeiros gigantes, mas a vontade de fazer canções anti-comerciais falou mais alto.