Montreal: cidade canadiana situada na província de Quebeque. É a maior cidade da província, a segunda maior do país e a nona maior de toda a América do Norte. Foi aqui que Peter Sagar, em tempos braço direito de uma das maiores revelações da cena alternativa dos últimos anos, o espampanante Mac DeMarco, cresceu. Em Montreal faz frio; neste momento, conta com uns aterradores quatro graus centígrados, e pouco varia ao longo do ano. E pensar que foi este país gélido que viu crescer Sagar, que nos presenteou nos finais do ano passado com In The Shower, sob o pseudónimo de Homeshake, um disco que sabe, cheira e soa a verão.
Existe sensualidade no mistério de Sagar. A comparação com o gigante DeMarco acaba por ser inevitável, tanto devido ao facto de serem ambos canadianos que já se cruzaram musicalmente no passado, como às pequenas semelhanças na sonoridade de um e outro. No entanto, Sagar não tem dificuldades em ultrapassar a distinção do seu famoso colega. Armado de um anonimato intrigante, não se deixa confundir com um DeMarco sorridente, familiar e monstruosamente reconhecível. Sagar é discreto, misterioso e, por consequência, infinitamente apelativo.
Com In The Shower, Sagar faz chover com delicadeza sobre as nossas cabeças um punhado de melodias doces e saborosas, que sabem ao primeiro mergulho no mar ainda antes de Junho, porque não dá para esperar mais. Cada música toma na seguinte numa ordem harmoniosa, sendo muitas vezes untadas entre si com samples bizarros de vozes de desenhos animados raptados da nossa nostalgia de infância coletiva, ou com a própria voz de Sagar capturada entre gravações, revelando a natureza caseira do projeto.
A loiça não se parte, os moches ficam escondidos, o rock nunca chega a aparecer. É a hora do lo-fi, temperado com algumas piscadelas ao jazz, com o qual o artista já brincou no passado. Cada uma das onze faixas se desprende de Sagar como um encolher de ombros e um sorriso despreocupado, desde a calorosa “Chowder” ao sereno single “Cash Is Money”. A guitarra ronrona brandamente ao sabor das melodias suaves que se espreguiçam com tranquilidade, nunca transparecendo uma emoção mais forte do que a doçura da melancolia de uma tarde de Agosto.
Com o verão aí à porta, não há nada mais a fazer senão mergulhar num disco que nos faz sentir saudades de um calor que ainda nem sequer chegou. Para ouvir e ouvir mais num verão que nunca nos parece chegar.