A voz de Gregory Porter revisitou o EDP Cool Jazz passados quatro anos. Poucas diferenças notámos nela, e ainda bem que assim foi.
E ao quarto dia do EDP Cool Jazz, Gregory Porter! O nome dispensa quaisquer apresentações. Mesmo assim, convém recordar que o músico norte americano já se tinha estreado em Portugal, neste mesmo Festival (2014), regressando agora uma segunda vez. Para além dessa distante data, Gregory Porter também por cá se apresentou noutros palcos, pelo que a única novidade, digamos assim, talvez fosse mesmo dar-nos conta do seu mais recente trabalho musical. Um nome importante da soul atual a revistar um mito: Nat King Cole. Mas isso fica para mais adiante. Comecemos pelo início, que é sempre uma boa maneira de começar. Ora vamos lá, então.
Noite fresca, como já vem sendo habitual. Tempo ideal para se ouvir as vozes quentes de três mulheres. Elas e o Jazz, para sermos exatos. Os seus nomes? Joana Machado, Marta Hugon e Mariana Norton. Recriam alguns dos mais conhecidos standards intemporais do jazz. Ao piano, João Pedro Coelho, no contrabaixo Romeu Tristão e na bateria André Sousa Machado. E assim, na hora exata (sem atrasos), o concerto começou, e desde logo o ambiente dos clubes noturnos desse distinto estilo musical soaram no ar do Hipódromo Manuel Possolo. Um cheirinho a Broadway também. Ambiente cool, portanto, embora um tanto morno, pelo menos para uma boa parte do público presente, mais interessado nas conversas da espuma dos dias do que em escutar, civilizadamente, o desenrolar do concerto. Vai sendo cada vez mais assim. Era Gregory Porter quem todos queriam ouvir, mas isso não desculpa tudo. Nem com os multiplatinados “Night and Day”, “The Lady Is a Tramp” ou “Devil May Care” a “primeira parte de noite” aqueceu. O cancioneiro popular norte-americano não vingou como devia nas vozes maduras e experimentadas das três senhoras em palco. Foi pena. Teríamos de esperar um bocadinho mais…
Não muito, no entanto. Às 22:35, baixaram-se as luzes do palco e o “bom gigante” entrou com “Holding On” na voz. Para além do conhecido vozeirão do cantor, os sublinhados do saxofone de Tivon Pennicott foram superlativos. Não só no momento inicial do concerto, bem entendido, mas durante todo o espetáculo. O cantor, compositor e ator que em 2014 nos deu o premiadíssimo Liquid Spirit começou em grande e foi muito bem recebido pelo mesmo público que havia ficado quase indiferente ao primeiro concerto da noite. Com a habitual presença em palco (o estilo da fatiota, a postura, os gestos), Gregory Porter “arregaçou as mangas” e entregou-se ao prazer (o trabalho também pode ser prazer) de iluminar a fria e ventosa noite da vila de Cascais.
“Take Me To The Alley” foi arrepiante (e fomos cantando para dentro “Take me to the alley / take me to the afflicted ones / take me to the lonely ones that somehow / lost their ways / let them hear me say / I am your friend”). Extraordinário! Gregory Porter nunca nos enganou. Tem ar de bom amigo. “Hey Laura” terá sido um dos momentos mais marcantes do concerto, cantado entre dentes (“Hey Laura it’s me / Sorry but I had to rang your doorbell so late”) por muitos e muitos dos presentes. “One rhythm, one spirit, one love”. Até que “chegou” Nat King Cole: “Musical Genocide” e “Nature Boy”, temas entrelaçados na perfeição. A seguir, “Mona Lisa”. Com tudo isto e com tanta qualidade, o tempo pareceu voar e num ápice, concerto e encore haviam terminado. O público saía com ar satisfeito. Nós também. Agora resta esperar pelo dia 26. Até lá há muita música para ouvir e para ler por aqui.