A timidez do público no primeiro dia do Super Bock Super Rock foi rapidamente transformada em euforia no decorrer do festival.
Quando chegavam as 17:00, hora a que os Parkinsons deviam começar a sua atuação no palco EDP, contavam-se umas magríssimas dezenas de pessoas no palco. Chegando um pouco atrasados e com um público ligeiramente mais composto, a anarquia caótica dos conimbricenses garantiu que eles não seriam ignorados por muito mais tempo. A certa altura os músicos ameaçavam abrir um buraco no palco, tamanha era a energia com que saltavam e faziam acrobacias. Entre problemas técnicos e uma inicial falta de entusiasmo por parte do público, o concerto de Parkinsons foi uma verdadeira batalha contra tudo e todos.

De seguida, os Parcels estrearam-se em Portugal, trazendo a sua groove gordurosa diretamente da Austrália para o Parque das Nações. Com uma fusão interessante de disco, funk e psicadelismo. Canções mais ligeiras como “Overnight” ou “Bemyself” viam a banda a reencarnar os Bee Gees, com as suas harmonias perfeitas pontuadas por danças mais ou menos sincronizadas. As músicas mais pesadas ofereciam uma oportunidade para a banda improvisar (com um solo de guitarra que lembrou Eric Clapton) por cima de grooves inspiradas em Earth Wind & Fire.
Mantendo o psicadelismo como fio condutor, o Palco EDP recebeu os britânicos Temples. O set da banda pecou por alternar sequências de músicas antigas, que deixaram o público eufórico, com sequências mais breves de músicas novas que deixaram o público mais frio. Ainda assim, malhas como “Sun Structures” ou “Colours to Life” continuam a ser verdadeiros monstros quando tocadas ao vivo e a banda parece feliz por poder voltar a trazê-las aos palcos portugueses.

Já dentro do Palco Super Bock, as canções do Zé Pedro e dos Xutos faziam-se ouvir, confirmando-os como uma instituição do rock português. “Who The Fuck Is Zé Pedro?” foi uma homenagem ao guitarrista e contou com vários membros e familiares dos Xutos e convidados que incluiram Rui Reininho, que se encarregou de “Morremos a Rir” enquanto Carlão teve espaço para um freestyle em “Este Mundo é Teu”. Mais tarde, Manel Cruz deixou o público eufórico com “Circo de Feras”, Manuela Azevedo cantou “Amor com Paixão” e Jorge Palma (e o seu Gang) acabou o set principal com “Portugal, Portugal”, com direito a um solo escaldante por parte de Flak dos Rádio Macau. No final do concerto, e como não podia deixar de ser, os restantes membros dos Xutos reuniram-se, tocando, entre outras, “Remar, Remar” mas era o microfone isolado que era o centro da atenção. A ausência de Zé Pedro é ensurdecedora. O concerto acabou com os participantes e o público a entoar “Não Sou o Único”. Who the fuck is Zé Pedro? Todos nós sabemos a resposta.

Rapidamente, a Altice Arena ficou inundada com fãs aguardando ansiosamente o concerto de xx. Dois ecrãs de LEDs em ângulo reto projetavam com efeitos os membros da banda e os seus instrumentos. O seu set começou com “Dangerous” do seu último disco “I See You” e percorreu toda a carreira da banda. Canções como “Say Something Loving” e “I Dare You” são já hinos da banda que também aproveitou para trazer algumas surpresas como uma versão esquizofrénica de “Shelter“ do primeiro disco homónimo ou “On Hold” que começou com Jamie XX sozinho no palco a tocar uma longa introdução influenciada pelo Acid house antes que os restantes membros da banda regressassem. Não faltaram clássicos e “Crystallized”, tocada numa versão mais lenta fez as delícias do público que fez questão de entoar várias partes instrumentais de “Intro”. Depois de dedicatórias à comunidade LGBT e ao novo membro da família de Romy Croft os xx acabaram o concerto com “Angels” deixando o público em êxtase.

Há algo de contraditório na aparente simplicidade instrumental dos Justice e o tempo que eles demoraram a entrar em palco. Uma hora depois dos xx saírem do palco, os franceses subiram, iniciando a viagem espacial com o hino “Safe and Sound” do seu último disco Woman. As enormes paredes de colunas Marshall (trinta e seis para ser mais específico) encheram-se de luz e efeitos especiais, contrastando com conjunto relativamente minimalista de instrumentos ao dispor da banda. Músicas como “Genesis/Phantom”, “Love S.O.S.” e “Alakazam!” tornam-se titânicas ao vivo com as suas camadas de sintetizadores destrutivos e os seus beats monolíticos. O set dos Justice foi uma verdadeira tour de force, um concerto greatest hits como já tinham feito no NOS Primavera Sound no ano passado. Quando os últimos acordes celestiais de “Parade” anunciaram o fim do concerto o público já não se aguentava em pé e esperamos encontrar uma subida exponencial na incidência de surdez ao longo das próximas semanas.
Em suma, no primeiro dia do Super Bock Super Rock 2018, o peso foi rei. Seja em contextos mais psicadélicos ou mais eletrónicos este dia foi uma grande demonstração da força visceral do rock. E não podia ser de outra maneira.
Texto: Miguel Moura || Fotografia: Inês Silva e fotos oficiais SBSR devidamente creditadas