Quando tinha dezassete anos, lembro-me que a música tinha mais influência nas decisões que as obrigações. Naquela altura tudo girava em torno dessa gente especial, diferente, que mostrava através de baixos e sintetizadores, que a vida também tinha outros sentidos e significados. A roupa, os amigos, as festas, o cabelo, os dossiers, os sapatos… Éramos um resultado misturado dos ídolos vanguardistas. Aqueles que se distinguiam do resto do rebanho. Mas seriamos assim tão diferentes dos outros, dos acomodados?
Quando os vi pela primeira vez, tive essa mesma sensação. Serão os Egyptian Hip Hop assim tão diferentes dos restantes adolescentes britânicos de melenas “acapacetadas”, à procura dos primeiros grandes romances? Há porém uma coisa que os distingue enormemente da restante classe juvenil: a sua inusitada capacidade para compor. Vamos lá por partes. Uma coisa é fazer covers e tocá-las com minúcia profissional. Outra coisa é composição. Eles não fazem apenas interpretação. Eles foram além da acomodação. O EP Some Reptiles Grew Wings, lançado em Setembro de 2010, é disso exemplar. O tema “Rad Pitt” caiu nas redes que nem mustelídeo nas armadilhas. E assim começou a aventura egípcia. NME em polvorosa, Pitchfork alerta, está o caldo entornado…
Mas o álbum de originais tardou. Ficou perdido em opções pessoais e indecisões promocionais. Enquanto o vocalista Alex Hewett andava em tourné com Connan Mockasin e Charlotte Gainsbourg, o restante do quarteto andava entretido em projectos alternativos. Ora, fazer o quê? São jovens senhor. Perdoai-os que eles acham que tudo querem e tudo podem. Foram preciso dois anos para chegarem à conclusão que a aventura Egyptian Hip Hop merecia mais que uma pálida paixoneta. Irónicos, sagazes, voltaram para nos dizer que Good Don’t Sleep. Dez temas, umas andanças pelo mundo e algum psicadelismo mascarado. De “Tobago” ao malásio “Yoro Diallo”, passando por “Snake Lane West”, não é de estranhar que eles concluam ajuizadamente que “We’re not like anti-pop or anything.” Este disco é esquivo. Aproxima-se de um ensaio laboratorial de qualquer terapêutica ainda por decifrar. Mas é na sua estranheza que lhe encontramos a coesão. E a sua imprevisibilidade abre tantas hipóteses para o que mais poderá vir destes quatro miúdos de Manchester…