Neste 14 de fevereiro, o altamont foi celebrar o Amor às Damas. Deathclean, Ideal Victim, bbb hairdryer e Not Your Business fizeram-nos suar e pedir por mais numa noite que teve tanto de dura quanto de doce.
“Rapadura é doce, mas não é mole não”
(expressão popular brasileira)
Ouvi este ditado há largos anos, da boca de um experiente mestre de Capoeira pernambucano e nunca sonhei vir a aplicá-lo a uma noite de concertos punk (e) hardcore, mas sinto que encaixa como uma luva a esta “Valentine’s edition” do certame Duro de Roer, que tão justamente vem ganhando adeptos e uma considerável reputação. Talvez antecipando as nódoas negras causadas pelo mosh frenético ou os possíveis choques a ouvidos mais sensíveis, alguém decidiu fazer uma errata no backdrop e Duro de Roer passou a Duro de Amar. A distorção, os breakdowns e as vozes lancinantes entram em nós com a subtileza das caneladas das coreografias hardcore, mas ficam lá dentro e afagam-nos a alma e o coração.
A noite arrancou com a estreia ao vivo dos Deathclean, – a dupla Luís Mendes e Micas (que vão partilhando a voz e o baixo) estendida a quarteto com a adição poderosa de um guitarrista e de um baterista. Hardcore com pedaços de metalcore e raspas industriais, cheio de poder,l energia e raiva desbragada … tudo feito com um prazer contagiante. Com o novíssimo sinlge/EP Guilty By Association a servir de mote, o assalto da banda Lisboeta valeu belos momentos de caos bem desorganizado no público que já enchia a sala das Damas. Com este princípio tão auspicioso, é banda para não tirarmos os olhos de cima.
Seguem-se os Ideal Victim, que nos últimos vezes já passaram por dois pares de olhos, dois pares de ouvidos e umas tantas lentes Altamont. Tal como já reportado no Vortex como no Itenerance Fest, o quarteto traz-nos um punk hardcore consistente e energético que tanto vai buscar aos clássicos gloriosos do início dos anos 80 como às sonoridades mais atuais, e que ganha particular pujança com a presença, a voz e a atitude de Mariana, que deixam todos de olhos grudados ao palco e com os pés a passearem algures em cima dos braços de outro alguém.
Dúvido que coubesse mais alguém na câmara escura das Damas, quando os bbb hairdryer subiram ao palco e se colocaram de costas para a massa de gente sedenta. Sim, o cenário parece dantesco, mas apenas para quem não o tenha vivido … e ainda hei-de arranjar coragem para ver se consegui sacar alguma foto de jeito! Ainda assim, a luz não nos abandonou uma fração de segundo que seja durante a maravilhosa atuação de Elisabete Guerra, Francisco Couto, chica e Chinaskee! Num alinhamento centrado no visceralmente belo A Single Mother / A Single Woman / An Only Child editado no final do ano passado, o frenesim elétrico a transbordar de distorção, feedback e turbilhões de emoção não saiu dos vermelhos e ia mesmo rebentando na parte, apenas aparentemente, menos ruidosa de “Hate”! Avassalador!
Depois do quarteto lisboeta, seria sempre difícil … ou impossível mesmo, atingirmos metade desta intensidade, e coube aos espanhóis Not Your Business essa missão impossível. Felizmente, o quarteto malaguenho não se armou em Tom Cruise e Companhia e aceitou que o seu papel era outro, o do retorno à calma … à calma pulsante do Hardcore … à metronomia quase mecânica dos breakdowns e da libertação da tensão acumulada. Um final terapêutico!





















