No seu primeiro registo de longa-duração, Norte Litoral, Duquesa, alter-ego de Nuno Rodrigues dos Glockenwise, cumpre a promessa que já fazia no EP de 2014, com um documento refinado de pop soalheira direta de Barcelos.
Foi já há três anos que Nuno Rodrigues, arranjando um espacinho entre o sucesso da sua banda Glockenwise, gravou e lançou discretamente um EP que nome não tinha, equipado com seis músicas que já aguçavam o apetite para um álbum para vir de pop soalheira descomplexada para ouvir num verão futuro. Norte Litoral nasce para o mundo num Fevereiro chuvoso, mas, percorrendo as suas melodias ensolaradas, nunca o adivinharíamos.
Há nos sete temas que compõe Norte Litoral um refinamento do flerte que Rodrigues semeava há três anos com o pop descomprometido de nomes como Mac DeMarco; mas não se trata de um mero revivalismo pastiche – é sim um aportuguesamento de uma pop que não tem língua, com as suas melodias calorosas e doces, as guitarras pachorrentas e as letras que não falam por mais ninguém senão um miúdo de Barcelos, na sua aventura do dia-a-dia de amores e desamores.
Um disco conseguido “sozinho, mas com ajuda”, apesar de contar com o auxílio precioso de, entre outros, João Rafael Ferreira (“Rafa”) de Glockenwise, o som de Norte Litoral demarca-se do trash pop enérgico dos seus companheiros de Leeches. Rodrigues está claramente, como diz, apesar de acompanhado, sozinho. É uma reflexão musical que não faz do seu autor um messias, um prodígio; mas também é com a autenticidade poética de carne e osso sobre a qual escreve e canta, como quando diz na faixa-título, “está o rio espalhado / cheira em ti a todo o lado” que não oculta o facto de que os anos de amador estão para trás.
Rodrigues entrega-se em cada estrofe, cada acorde, cada suspiro; sentimo-lo em “Afinal”, alegre canção que pede para acompanhar viagens de carro ao longo da Costa Alentejana, entoando com gosto os coros harmoniosos, em “Better Men”, de charme de valsinha desenhado pelos acordes certeiros na guitarra, e na própria faixa-título, uma íntima balada carregada de uma melancolia que o autor deixa que seja a nossa.
Norte Litoral não é nem tenta ser uma obra-prima, é simplesmente o que vamos precisar de ter connosco quando o sol começar a espreitar por entre as nuvens e as mangas compridas a encolher. Afinal de contas, quantas obras-primas é que se pode decorar a caminho da praia? De Barcelos para o mundo, Rodrigues dá como prenda, em pleno Inverno, o disco que nós nem sabíamos que o nosso Agosto precisava.