Se existe uma banda neste momento bem posicionada para apanhar os lendários Rolling Stones na mítica barreira dos 50 anos de carreira, são certamente os conterrâneos Deep Purple. Com mais de 150 milhões discos vendidos em todo o mundo, inúmeras mudanças de formação e muitas peripécias acumuladas ao longo de mais de quatro décadas e meia, estes veteranos, autênticos “guerreiros” de estrada são uma autêntica lenda do Rock.
Com Now What?!, o seu décimo-nono disco de originais, a banda liderada por Ian Gillan não esconde nenhuns truques na manga mas ainda chega a surpreender com um dos melhores discos da sua carreira. Talvez o melhor desde Perfect Strangers. Já lá vão quase três décadas.
Produzidos por outro nome “estratosférico” do rock – Bob Ezrin (Pink Floyd, Kiss, Lou Reed, etc) – as sessões de gravação decorreram o ano passado em Nashville, ensombradas pela morte do amigo e ex-companheiro Jon Lord. Um facto marcante que fez com que a banda tentasse dar o máximo dos máximos no sentido de homenagearem o melhor possível um dos pilares essenciais do seu som de sempre.
De certa maneira pode-se dizer que o espírito do ex-teclista esteve presente na elaboração criativa do disco que lhe é dedicado. Mais em particular nas faixas “Above and Beyond” e “Uncommon Man” escritas por Roger Glover e Gillan na casa deste último no nosso Algarve, em jeito de tributo ao malogrado amigo e na qual o substituto Don Airey deu o seu melhor para recriar a mão de ouro do mestre.
Fora dessa órbita mais negra, Now What?! é um disco onde se sente que esta banda encontrou um novo sentido para a sua prolongada existência e uma liberdade criativa como há muito não se ouvia. Escute-se essa espécie de “Black Night” dos tempos modernos sob o nome de “Hell to Pay”. Parece já ser um clássico ainda antes de o ser.
E quando esta banda está focada e concentrada denota-se que o método tradicional com que sempre inventaram canções – através de jam sessions – a coisa resulta na perfeição e a magia acontece. São o caso de “Aprés Vous”, “Weirdistan”, “A Simple Song” ou “Blood From a Stone”, todas elas deixam um gostinho na boca para ver como vão resultar ao vivo. Se for como tem sido até agora nunca vão ser tocadas exactamente da mesma maneira.
Quem tem nas suas fileiras músicos do calibre como Airey, o baterista Ian Paice ou o fabuloso Steve Morse o resultado pode ser explosivo. Escutem só o tema que encerra o disco, o fantasmagórico alucinado “Vincent Price”. Há muito tempo que não se ouvia nada assim deles. Mágico.
Foi por isso mesmo que Ezrin quis trabalhar com eles. Precisamente porque já ninguém faz este tipo de musica ou soa como eles. Este tipo de bandas deviam ser estimadas, o tempo já corre contra elas e o fim está cada vez mais próximo para que futuras gerações possam desfrutar ao vivo e a cores de música deste calibre. Os Purple podem já não ter o tal “All the Time in the World”, tal como indica o single de apresentação, mas saber que ainda existem discos de rock assim é um pensamento reconfortante.