Radio Gemini é um disco inesperado. Foi gravado em tempo recorde, traz novas sonoridades à música de David Fonseca e motiva um novo conceito de espetáculo do músico que se estreou há 20 anos. Em palco, há ainda coisas por limar – mas a festa já se faz com propriedade.
David Fonseca foi raras vezes consensual. Há quem goste muito, quem odeie. Radio Gemini, a novidade, não retirará fãs ao músico mas, lá está, também não trará novos adeptos ao leiriense.
Na sexta-feira, Sintra recebeu o primeiro espetáculo da nova digressão do músico. Há, naturalmente, uma banda ainda a encontrar-se para tocar as novas canções, mas já são identificáveis ao vivo os trunfos maiores de Radio Gemini: “Lazy”, por exemplo, cruza alguns toques meio reggae com um corpo eletrónico e com um coro gospel – é uma grande canção; “Slow Karma” é definida pelo músico como uma das suas músicas preferidas do disco, e é efetivamente uma robusta cantiga; os singles “Get Up” e “Oh My Heart” são já reconhecidos, mas é só com “What Life is For”, já no encora, que o público arrisca levantar-se das cadeiras e dançar.
David Fonseca é cada vez mais um homem de palco. Continua a saber dar espetáculo só com uma viola e a sua natural boa disposição (boa recuperação de “U Know Who I Am”), mas o imaginário do músico é cada vez mais o de ‘frontman’ de uma banda rock que o de cantautor melancólico. Mais uma vez, mal nenhum.
“Our Hearts Will Beat As One”, “Hold Still”, “A Cry 4 Love”, “Rocket Man”, “Superstars”, “Stop 4 a Minute”, “Chama-me Que Eu Vou” – fica aqui um possível repertório de coisas não tocadas e que são parte do imaginário pop/rock de anos recentes em Portugal. Isto para dizer que há aqui um músico completo, com carreira feita, estabelecida, em nome próprio. Juntemos isto aos méritos recolhidos com os Silence 4, Humanos ou em projetos mais ou menos laterais, embrulhemos tudo, agora reinventemos a roda e eis Radio Gemini. David Fonseca continua um gajo porreiro, um músico cheio de méritos e um bom artista em palco. Celebremo-lo.