Quando ouço (ou penso em) Bruce Springsteen, há quase sempre uma dúvida que me assalta: de onde lhe vem toda aquela força? Aquela espécie de fúria semi-controlada, mas capaz de abalar cidades e pessoas, como levando tudo o que se lhe depara à frente.
Em “Crush on You”, isso é particularmente evidente e curioso. Numa canção que se faz toda ela de uma declaração amorosa, a subtileza é arrumada para um canto e o que se ouve é um Bruce Springsteen a vociferar enquanto declara (ou seria melhor dizer confessa?) os seus sentimentos.
Oito anos depois desta canção (e de “The River”, o álbum marcante que a continha e que trouxe Springsteen até terras lisboetas), John Lombardi arrasava o mito, questionando a realidade da imagem transmitida por Bruce — não seria antes uma fabricação comercial, dando à indústria à ideia de que ali estava um artista que transmitia uma energia e uma rebeldia ao público que não o impedia de, depois, nos bastidores, cumprir as regras do meio em que se movia?
A crítica, recordada recentemente por Bruno Vieira Amaral, é pertinente. E a mais discussões levaria sobre a autenticidade de muitos dos produtos que chegam a um ponto em que passam a pertencer às massas, que lhes orientam o caminho. Mas foquemo-nos, com “Crush on You”, nessa aura de rebeldia, que o ligava bem mais, por exemplo, a Kurt Cobain do que um pensamento imediato faria supor.
Num caso como noutro, os dois fazem do tédio e dos problemas individuais (porque todos os problemas sociais são um conjunto de problemas individuais, evidentemente) gatilho para uma revolta sonora. Num caso mais contra-cultural e furioso, noutro mais enquadrada com as regras da indústria e efusivo,. Aos dois ligava, porém, a aura da genialidade, por poucos tocada. A da capacidade em fazer música capaz de mudar o mundo de quem a ouve.
Ouve-se esta “Crush on You”, vezes e vezes, e a pergunta que irrompe é sempre a mesma: que força é essa?